Paroles

Pra não dizerem que toco sempre e apenas nas mesmas teclas, desta vez, mui aleatoriamente pro meu gosto, digitei vogais e consoantes poucas vezes aqui reunidas. Deu nesses dois exemplos incomuns, que eu emprego em dois contextos mui comuns pro meu desgosto

Pareidolia – É uma palavra cujo sentido só faz sentido se você divagar. Deitar na grama e ver figuras nas nuvens. Visualizar um perfil humano no recorte de uma montanha. Reconhecer imagens em manchas ou relevos em paredes. Năo chega a ser alucinação porque o cara tem, o tempo todo, consciência da irrealidade da coisa, exceto os fanáticos, que acabam por venerar janelas santificadas por detergente. Enfim, é tão somente um tipo de deficiência da percepção, um tilt mental, que faz com que um estímulo vago, dúbio, seja claramente percebido como uma forma familiar. O cérebro é que necessita do truque. E é por isso que a maioria da população brasileira é capaz de olhar para alguém como o sr. Luis Inácio Lula da Silva e imaginar que está diante de um presidente da República.

Oximoro – Nada mais é que a velha contradição em termos. Inteligência militar, a mais incisiva; felicidade conjugal, a mais corriqueira; quase virgem, a mais incongruente, e assim por diante. Como a lista é infindável, no fim é quase impossível criar novidades na área. Gosto de pensar que consegui inventar duas ou três, e fastfood de escargot é a que mais me agrada. Tentar elaborar um é festa pras sinapses. Um pouco de lógica, outro de falta de, senso de antagonismo, descrença social, repertório e vocabulário em lúdica permutação, e pronto. Mas não espere, de cara, a obra-prima que só o Congresso, aquela convergência desarmônica, consegue durante os depoimentos em CPIs e declarações e entrevistas para a mídia: a transparência opaca.

Fraga – foto: Chema Madoz

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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