Aprovação da ozonioterapia é estelionato eleitoral
A notícia da aprovação da ozonioterapia como tratamento complementar de saúde teve gosto de déjà-vu. Uma volta a 2020, quando Jair Bolsonaro montou um gabinete anticiência paralelo, demonizava as vacinas, e oferecia cloroquina até às emas do Palácio da Alvorada.
Mas, ao contrário do que houve na pandemia, quando a população estava ligada em todas as ações do abestado que comandava o país, a comoção pelo negacionismo de Lula tem sido pífia. Sim, negacionismo. O presidente ignorou a recomendação de entidades médicas, da Anvisa e da ministra da Saúde, Nísia Trindade.
Os eleitores de Lula poderiam facilmente tratar o assunto como estelionato eleitoral, uma vez que o então candidato teve o “fim do obscurantismo científico” como um dos pilares de sua campanha. O presidente ignora o fato de que a ozonioterapia é um procedimento considerado experimental. Ao que parece, gás no fiofó dos outros é refresco.
Mas Lula tem sorte. Uma parte significativa de seu eleitorado jamais contestará qualquer decisão de painho, por mais absurda que seja. Outra parte abandonou os jornais, os sites, o Twitter e segue exausta pela distopia dos últimos anos e alheia ao que é feito no novo governo. É compreensível, mas não aceitável, deixar de fiscalizar um novo presidente apenas porque ele não é medíocre, incompetente, um terraplanista político, como seu antecessor. Lula tem sorte de a sociedade estar anestesiada, ainda sob efeito da ressaca do golpismo.
Se o pessoal estivesse ligado, teria sido uma gritaria a não nomeação de uma mulher para o STF —o que pode se repetir quando Rosa Weber se aposentar—, a defesa da exploração de petróleo na Foz do Amazonas, a fritura em banho-maria da ministra Marina Silva, os afagos a ditadores de esquerda. Sem falar de todas as declarações equivocadas, desconectadas do espírito do tempo.
Lula tem sorte, mas precisa também de juízo.