O presidente Bolsonaro é do tipo sincerão que não perde a viagem em matéria de preconceito. Deve achar bonito pisar na casa dos outros e tratar os anfitriões como paus de arara, cabeçudos e aratacas — para ficar apenas nos escárnios mais recentes da sua visita aos sertões de Pernambuco, do Ceará e do Rio Grande do Norte.
Há quem siga normalizando todas as infâmias que saem da boca do homem. Uma pequena claque vê até como piada, pilhéria, gracejo etc. Sou da terra do humor e não vejo nada de engraçado nisso. Prefiro não me acostumar com essa fala que repete uma surrada maneira de diminuir ou folclorizar, no pior estilo, o povo do Nordeste.
“Eu sempre me referi com os amigos, né, cabra-da-peste, pau de arara. Me chamam de alemão também, sem problema nenhum. Arataca, cabeçudo, pô”, disse o veterano político em Salgueiro (PE). A novidade é o uso desse “arataca” no seu discurso. Trata-se de uma armadilha para pegar pequenos animais silvestres. É também uma velha denominação depreciativa para os brasileiros nascidos nos estados do Norte, não do Nordeste.