Foi-se o Paulo Gustavo. E o Brasil ficou muito mais triste, muito mais bolsonaro. Paulo resistiu o quanto pôde a covid bolsonariana. Foram 53 dias de luta, de sofrimento, de esperança. Na terça-feira, o maldito vírus venceu e tirou do nosso convívio um dos mais talentosos atores brasileiros da nova geração. Segundo o “especialista” Jair Messias, era apenas “uma gripezinha”, que atingiria, “no máximo, duzentas pessoas”. Com Paulo Gustavo, ultrapassou as 410 mil mortes. Hipocritamente, o capitão solidarizou-se com a família do artista.
Já disse aqui e repito: há pessoas que deveriam ser proibidas de morrer. Paulo Gustavo Amaral Monteiro de Barros era uma delas. E com ele, todos os humoristas do Brasil, pessoas que nos fazem rir, que ainda oferecem alegria neste país dominado pelo ódio, pela maldade, pela violência e pela dor.
Paulo Gustavo, 42 anos, tinha um futuro luminoso pela frente. Em poucos anos de carreira, brilhou no palco, no cinema e na televisão. Com o seu trabalho, criatividade e talento, conquistou multidões de admiradores. Sabia, como Rubem Alves, que “quando chorar é inútil, só nos resta dar risada”. Vai deixar muita saudade.
Além de popular e aplaudido pela plateia, Paulo Gustavo era querido pelos amigos e pelos colegas de trabalho. Para todos tinha sempre uma palavra de afeto, de apoio, de incentivo. Era também generoso e solidário. Devoto de Irmã Dulce, contribuiu, em silêncio, com mais de R$ 1,5 milhão, para a construção de um centro de tratamento de câncer na Bahia. E só soubemos disso agora, ao ser revelado pelo padre Júlio Lancellotti.
Ainda segundo Rubem Alves, “a vida é uma sonata que, para realizar a sua beleza, tem de ser tocada até o fim”. Paulo Gustavo foi muito cedo. A sua sonata ainda estava no início.
Segue em paz, bom Paulo Gustavo. E nada mais se pode ou precisa dizer.