É preciso ser forte para aguentar baques dessa dimensão, ter fé e acreditar que a vida não acaba com a morte. Estamos aqui só de passagem. Ao morrer, passamos a outra dimensão, onde continuaremos a nossa caminhada. Pelo menos é assim que nos ensinam os espiritualistas e não temos porque duvidar. É parte do desenvolvimento humano. E, com certeza, sofre mais quem fica do que quem vai. A ausência dói. E como dói!
Paulo e Raquel formavam um belo casal. Ambos advogados e professores, tinham uma bonita vida acadêmica. E uma vida familiar não menos airosa, apesar dos eventuais percalços, comuns nessas ocasiões. Havia, por certo, diferença de gênios; afinal ele é gaúcho e ela era mineira. O mineiro, como é sabido, mescla o conservadorismo com a rebeldia, o tradicional com o revolucionário. Já o gaúcho é tido como irreverente e guerreiro. Mas, como o mineiro, é tradicionalista e hospitaleiro, sem a desconfiança inicial do mineiro. Ambos, porém, amam como poucos as suas terras e as suas histórias. Quer dizer: no fundo, não são tão diferentes assim.
No caso de Paulo e Raquel qualquer eventual divergência deixou de existir com a chegada do pequeno Bruno, atualmente com sete anos.
Mais um motivo para lamentar a falta de Raquel. Embora tivesse tido sempre a saúde frágil, ela foi muito cedo. E isso entristeceu todos nós. Especialmente Paulo Roberto e Bruno.
Em tais momentos, Rubem Alves recorria a uma chama que trazia sempre guardada e que queimava sem parar, uma chama que se chamava “amor”. Porque, segundo ele, “o amor não aceita a perda das coisas amadas”. Ou seja, “tudo o que é amado, o coração quer que que seja eterno”. Por isso, a gente precisa acreditar que, de alguma forma, as coisas amadas não estão perdidas. “Estão só guardadas” – garantia Rubem. Raquel está só guardada. Ou “encantada”, como preferia Guimarães Rosa.
Segue em frente, estimado amigo Paulo. O Bruninho precisa de você. E nós também.