O mafioso italiano, sua namorada e o ricardão. Detalhes podem comprometer a fidelidade da narrativa, mas laterais, incidentais. Por exemplo, mafioso ‘italiano’. Máfia só tem na Sicília; na Itália peninsular existem a Camorra em Nápoles e Ndrangheta na Calábria. No entanto, mafioso já é termo genérico, até o pessoal da Lava Jato é mafioso. Então digamos que um delinquente italiano tenha namorada curitibana. Há precedentes.
Ricardão é genérico também, o cara que arrasta mulheres como patrolas arrastam a terra. Nem todas na sua conversa, cada dez tentativas levam a nove fracassos, porém dá e sobra. Nosso herói, sempre objetivo, conversa rala, boa presença de área. Rápido, vapt-vupt e parte para outra, o mundo feminino é imenso e a vida é curta. Fechando o círculo, o ricardão colheu a namorada do mafioso. Contrariando seus instintos, lá ficou.
Moça tida e mantida, o mafioso acabou por descobrir o romance, aquela coisa que mafiosos e amorosos percebem: a ausência presente, o olhar perdido, o sub-reptício olhar ao relógio, o pouco entusiasmo nas carícias. Uno com uno risultano due, na matemática peninsular. Capangas descobrem o ricardão no bem-bom do mafioso. Mafioso e coronel de zona não levam desaforo, urgia corretivo – sem perder a garota.
Não existem mais mafiosos como Don Corleone. O corretivo em ricardão consistiu em leva-lo ao Viaduto dos Padres, estrada de Paranaguá. Olhos vendados, mãos amarradas, a ameaça de viajar no espaço abaixo sem parapente ou paraquedas. Os capangas nem o deixaram na estrada, como no rigor do sequestro relâmpago. Apenas o aviso, “fique longe da moça”. Voltaram com ele, solto e salvo. O triângulo continua. O mafioso, Don Cornoso.