POR FAVOR, relevem o confessionalismo, de falar coisa íntima e na primeira pessoa, mas não posso conter a indignação com nossa senadora Gleisi Hoffmann. Essa mulher já me levou à loucura com seu jeitinho espevitado, atrevido, evocativa da paixão que todos tivemos no ensino médio. Lembro Sirlene Pelizzari, a garota da carteira ao lado, para a qual jogávamos lápis, caneta, cadernos ao chão para contemplar-lhe as pernas.
Passei da idade e do peso do fingimento, paguei dívidas e pecados, tenho direito adquirido à nostalgia. Gleisi trouxe ainda meu imaginário da universidade, envolvido na sedução de Rosinha de Castro, a veterana de quem me despedia na entrada do aparelho comunista que ela frequentava – e dali nos despedimos para sempre, ela na clandestinidade, eu na frustração do amor inconcluso. Daí esta mania por mulheres que sobrepõem a política ao sexo.
Vivo sob angustiante ambivalência com Gleisi: gosto dela como mulher privada, não como mulher pública. Vinha toureando uma decepção com a senadora. Até que a decepção me abateu, com a força de um golpe da base aliada: o episódio da camisa rasgada no Paraguai, a hospedagem no hotel da Suíça, as viagens com Lula, sem o marido, pelo Nordeste. Tolices cabeludas de presidente do PT não contam, jeito da madeira.
Gleisi caiu na Lava Jato. A paulista, o lance do Custo Brasil, empréstimos consignados do ministério do Planejamento, o marido Paulo Bernardo na suposta maracutaia. Dizem PF e MP que tinha propina: o dinheiro entrava para o advogado curitibano como honorários e saía para o pagamento de contas do casal. Começava em Brasília e terminava em Curitiba. Por que, Gleisi? Por que não ficou na Lava Jato de casa, onde lavamos nossa roupa suja?