Quanto mais me escondo, mais me fotografam. Refiro a família e uns poucos oportunistas, como Maringas Maciel, o flanêur que flagra gente anônima e prosaica pelas ruas desta cidade mais inteligente das galáxias já documentadas em milhões de anos-luz retroativos, captados pelo Observatório James Webb. Por melhor que seja o fotógrafo na prestidigitação dos ângulos e na manipulação da luz, o resultado nunca destoa da realidade: o que é bonito pode continuar mais bonito, o feio, menos feio. Já o gordo, esse nem a grande angular disfarça. Meu caso, cada dia mais engordo; começou na inatividade da pandemia e agravou com a muleta emocional da gula. Há o complicador da dieta, que exige disciplina e não tolera subterfúgios. Excluída a dieta, vem a cirurgia bariátrica, exclusiva para obesos terminais, os mórbidos. O que podem fazer os gordinhos em progresso, apanhados no flagrante desagradável e insidioso da fotografia?
Agora se fala no Ozempic, remédio para diabéticos de efeito associado no emagrecimento. Virou coqueluche de nove entre dez personalidades do show business e gente apressada, como mostram as reportagens dos que enxugaram e podem caber novamente em roupas cheirando a naftalina, a torturar dentro de guardarroupas. Até o momento não há registro de fatalidades pelo Ozempic; seus efeitos colaterais limitam-se à desproporção da cabeça em relação ao corpo que enxugou, pois o percentual de obesidade craniana é insignificante, mas significativo na fotografia; outra contraindicação também envolve a cabeça, mas pelo lado de dentro, do cérebro – que, apesar de não conter gordura, diz-se que perde acuidade com o tratamento; ou seja, vai-se parcela da inteligência junto com a perda de gordura. Decidi apostar no Ozempic. Perder pontos no QI pode melhorar minha aceitação social, nessa inteligência que mais me complica que explica.