Christopher Plummer, ator americano nascido no Canadá, teve sua morte no dia 4 último, aos 91 anos, noticiada do jeito que ele temia: como a do capitão Von Trapp no filme “A Noviça Rebelde” (1965), que o tornou, aos olhos do mundo, um canastrão. “Von Trapp não era um personagem, mas uma carcaça”, dizia. “Implorei a Ernest Lehman, o roteirista, que lhe desse um pouco mais de conteúdo. Em vão. E, mesmo assim, toda vez que eu abria a boca, Julie Andrews começava a cantar!”
Raros os obituários que o citaram mais extensamente como um ator de Shakespeare, brilhante em Hamlet, MacBeth, Ricardo 3º, Marco Antônio e Lear —e também imponente como Édipo, Don Juan, Cyrano, Sherlock, Tolstoi, Kipling e Rommel, em teatro, cinema e TV. Fez tudo isso a despeito de si mesmo, como confessou no livro “In Spite of Myself” (2008), em que descreveu sua brutal convivência com o alcoolismo, só cortada em 1970.
Plummer pertence à minoria que conseguiu superar a garrafa, como Dana Andrews, Jason Robards, Dennis Hopper, Anthony Hopkins e Michael Keaton. Mas por pouco não teve sua vida ou carreira minada por ela, como aconteceu com John Barrymore, Buster Keaton, W.C. Fields, Spencer Tracy, Errol Flynn, Joan Crawford, Ava Gardner, Montgomery Clift, Alan Ladd, William Holden, Marilyn Monroe, Richard Burton, Peter O’Toole, George C. Scott e tantos outros.
O problema desses astros não era um porre ocasional, mas a necessidade matinal de álcool para funcionar, atrasos na filmagem, incapacidade de decorar falas, “estafa” e, às vezes, sumiço de semanas. Os estúdios iam à loucura, mas, em vez de tratá-los, tinham esquemas para proteger sua intimidade. Afinal, eles eram astros —e, com isso, continuavam ingerindo.
Plummer tinha 41 anos ao parar. Seus 50 anos seguintes, de sobriedade e trabalho, não lhe garantiram só a sobrevivência, mas a imortalidade.