Era o que havia no meio do mato. O sedento viajava a cavalo, carregava um mosquetão e usava botas.
Antes de falar do afogamento do homem é preciso conhecer a sede do homem.
O homem, solitário, conversava com o cavalo:
– Vou morrer de sede. É tamanha a sede que só pode ser sinal de morrer de sede.
– Mas num mato assim tem água – disse o cavalo.
O homem não respondeu. Sabia que naquele mato havia água. O mede de morrer de sede era coisa só dele.
– Tem uma fonte perto – insistiu o cavalo, farejando, e com sede, mas sem medo de morrer de sede.
– Não me amole – gritou o homem.
O cavalo ficou quieto. A viagem continuou. Eles voltaram a conversar, mas coisa sem importância porque nenhum dos dois quis falar de novo de sede e fonte.
A sede chegou à fonte.
– Não vou mais morrer de sede – disse o homem para o cavalo, que preferiu ficar quieto e decidiu não beber água.
O sedento mergulhou na fonte e bebeu água. Afogou-se.
Após o afogamento do homem, o cavalo disse em voz alta:
– A fonte que não mata a sede, ele encontrou a fonte que mata o sedento.
O cavalo enfiou os dentes na roupa do morto e saiu arrastando o corpo pelo mato, sem destino.”
Fontes Murmurantes|1985