O Bar do Escritor nasceu como uma comunidade do Orkut, hoje com aproximadamente 3 mil membros. O nome não faz justiça ao atrevimento dos meninos. Ao adotar os estatutos de uma imaginária Anarquia Brasileira de Letras, o grupo se define, além de apaixonado pela escrita (literatura), também como adepto de uma postura sem censura, descompromissada e “sincera”. Eventualmente publicam livros. Tem prosa e muito verso nas 270 páginas desta antologia lançada esta semana, no Rio. Um traço comum às dezenas de autores: a juventude. Escolhi este trecho de poema do meu amigo Pablo Treuffar, que por razões pessoais dedico a Marcos Prado (que não conheci) e Wilson Bueno:
Dois tiros na favela
Hoje
Leio o jornal
Ontem mataram um garoto no Morro Azul
Onde estou lendo, ontem estava no segundo
papelote.
Estava eu aqui
Depois de bater várias carreiras
Botei napa adentro
Adoro a Falete
Tarja amarela
É o que há
50 paus
Tem sempre um moto-táxi pra entregar
Acabei de foder
Digito compulsivamente entre um teco e outro
A imagem da minha letra recolhe em si,
negativamente, o conteúdo do texto
Benditos Blocos de Nota, Word, Wordpad.
Viva a cocaína
Mataram alguém no morro Azul
Ouvi os tiros
Dois
À queima roupa
Tuf, tuf
Da janela do quarto, na cama onde linda morena
Dorme ao meu lado, vejo dois clarões
Ouço dor
Sinto morte e medo
Procuro
Paranóica, mente
Furos de bala em minha cabeça
Não tenho
Estou de frente pro morro, sentado na cama,
digitando merdas em um laptop.
A imagem digitada faz bem pro texto
No meu outro lado o prato com pó
Dou mais um belengo
A morena não acorda
Bom
Não quero foder
Quero entender.
(…)
Toninho Vaz, de Santa Teresa
Hoje
Leio o jornal
Ontem mataram um garoto no Morro Azul
Onde estou lendo, ontem estava no segundo
papelote.
Estava eu aqui
Depois de bater várias carreiras
Botei napa adentro
Adoro a Falete
Tarja amarela
É o que há
50 paus
Tem sempre um moto-táxi pra entregar
Acabei de foder
Digito compulsivamente entre um teco e outro
A imagem da minha letra recolhe em si,
negativamente, o conteúdo do texto
Benditos Blocos de Nota, Word, Wordpad.
Viva a cocaína
Mataram alguém no morro Azul
Ouvi os tiros
Dois
À queima roupa
Tuf, tuf
Da janela do quarto, na cama onde linda morena
Dorme ao meu lado, vejo dois clarões
Ouço dor
Sinto morte e medo
Procuro
Paranóica, mente
Furos de bala em minha cabeça
Não tenho
Estou de frente pro morro, sentado na cama,
digitando merdas em um laptop.
A imagem digitada faz bem pro texto
No meu outro lado o prato com pó
Dou mais um belengo
A morena não acorda
Bom
Não quero foder
Quero entender.
(…)
Toninho Vaz, de Santa Teresa
6 respostas a Poesia suja