BRASÍLIA – Na confusão do noticiário da semana passada, passou quase despercebido o pacto do PSDB pelo impeachment. Divididos desde o início do ano, os tucanos resolveram unificar o discurso a favor da deposição de Dilma Rousseff.
O acordo foi selado com uma rara visita de Fernando Henrique Cardoso a Brasília. O ex-presidente posou para uma foto com Aécio Neves e Geraldo Alckmin, que disputam o controle do partido e o direito de concorrer à Presidência de novo em 2018.
O senador mineiro, que chegou a sonhar com a convocação de novas eleições, já havia declarado apoio ao impedimento da presidente. Faltava o governador paulista, que dizia a aliados não ver base jurídica para um processo de impeachment.
Alckmin mudou de ideia depois de um encontro a portas fechadas com o vice-presidente Michel Temer. Segundo peemedebistas, ele esperava uma garantia de que o vice não pretende concorrer à reeleição caso assuma o Planalto pelos próximos três anos, em mandato-tampão no lugar de Dilma Rousseff.
O novo pacto do PSDB não muda nada no placar do impeachment. Sempre esteve claro que os 53 deputados do partido votariam a favor do pedido, que leva a assinatura do advogado tucano Miguel Reale Junior.
A novidade é que a foto com FHC liberou a sigla para dizer em público o que já admitia e negociava em privado. Os tucanos estão ansiosos, alguns ansiosíssimos, para integrar uma eventual gestão Temer.
“Se houver um novo governo, vai haver entendimento”, anunciou no domingo o senador José Serra, candidato a ministro da área econômica. “Dependendo das condições e do programa, podemos participar”, endossou o senador Aloysio Nunes.
Derrotado nas últimas quatro eleições presidenciais, o PSDB sofre há 13 anos com a distância do poder. Agora o partido parece ter encontrado, na “Ponte para o Futuro” de Temer, um caminho mais fácil para trocar a oposição pela situação.
Bernardo Mello Franco – Folha de São Paulo