O vídeo publicado pelo deputado Daniel Silveira (PSL), com ataques violentos e acusações graves aos ministros do STF, demonstra que é balela a construção de uma base política de apoio pelo presidente Jair Bolsonaro. O que existe é uma confusão de propósitos, que obrigatoriamente terá de receber uma razoável organização ou a bagunça acaba com o governo.
O deputado bolsonarista teve prisão em fragrante decretada nesta terça-feira pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF, em decisão que determina a retirada do vídeo pelo YouTube. Silveira foi preso pela Polícia Federal na noite de ontem.
Silveira fez ataques grosseiros aos ministros Édson Fachin e Luís Roberto Barroso. Ele também acusa Gilmar Mendes de vender sentenças e o ministro Alexandre de Moraes de ligações com o PCC. No vídeo, ele fala também no fechamento do Supremo.
Silveira é um dos parlamentares que sobraram da base bolsonarista na Câmara ligada diretamente a Bolsonaro. Dos 52 deputados eleitos com Bolsonaro, hoje o grupo se restringe Prisão em flagranteà cerca de uma dúzia, cujo comportamento não se adequa ao perfil do chamado Centrão, no qual o presidente deposita a esperança de fugir de problemas com a Justiça e até da proteção de seu mandato.
Este episódio grotesco do vídeo do deputado desbocado se encaixa na dificuldade em saber qual é afinal a pauta política desse governo. Com Bolsonaro se acertando até com o PT de Lula para garantir um retrocesso que garanta sua proteção e da sua família, nada indica que seja oportuna uma encrenca desse tamanho exatamente com o STF, de onde sairão as decisões que podem consolidar a volta ao clima de impunidade.
O episódio mostra que o presidente terá de confrontar-se com a dificuldade de convivência entre esses extremistas e os políticos que aderem ao governo sem a intenção de se comprometer com complicações criadas por figuras pretensamente ideológicas, que é a formação do tal grupo raiz — habitualmente trazendo surpresas fora de controle, como esta agora.
Não tenho dúvida que Bolsonaro preferiria manter o grupo de parlamentares fanáticos atiçando a militância, mantendo a marca política agressiva que o levou ao poder, enquanto faz suas negociações por debaixo dos panos. Porém, ele terá de fazer uma escolha.
Com o Centrão, as negociações do governo serão ponto por ponto, do mesmo modo que foi com outros governos, inclusive os do PT.
É claro que tais acordos não envolvem o compromisso com bandeiras políticas que tragam o risco de abalar o resguardo político de boa parte dos deputados em relação a seus interesses, que às vezes costumam depender da apreciação do STF.