Cicuta sem Gelo, de José Parmênides de Eléia; Editora Priori; oitocentas e tantas páginas, uma mais enfadonha que a outra.
O autor não é, seguramente, pela Ética Tomista. Esta, baseada na finalidade metafísica, supõe que todos os seres têm um fim prefixado. Neste livro, José Parmênides contraria toda uma filosofia iniciada em “Raios Catódicos”, polêmico e fundamental para a carreira do volúvel mineiro, que, aos 97 anos, é considerado um dos baluartes do “orelhismo”, movimento banido da Semana de 22 por não ter pé nem cabeça.
Na página 346, Parmênides nega tudo o que disse antes ao propor que “para se chegar a um determinado fim, é preciso passar pela metade, assim, um outro fim foi atingido, não o fim final, mas o fim começo” ou “o cume da escolástica é muito mais alto do que se imagina”.
Se os orelhistas atuais não estivessem tão euforicamente encurralados, teriam em Parmênides um colaborador de grande vulto, principalmente depois que, encarado pela intelectualidade pós-guerra, ele virou o rosto e escreveu “Moldando Baquelite”, oferecido às duas irmãs numa dedicatória simples e fulminante: “À Dulcinéia e à Rutinéia, sem as quais eu não continuaria na boléia”. Parmênides sempre teve na baderna uma arma contra a imensa seriedade peculiar de seus contemporâneos.
Olhar os lírios da estante, para ele, sempre foi uma discussão linguística, mas “Cicuta Sem Gelo” dificilmente será aquilo que todos esperam de um livro de Parmênides, contraditório do começo ao fim, em todas as páginas.
A mais cara das contradições, que deve custar ao autor o esquecimento por muito tempo, está na tonalidade discursiva, demonstrando talento e habilidade ao folhear o palavreado, mas deixando para trás o motivo inicial do livro, isto é, a finalidade dialética pura de encontrar a verdade. E ela estava debaixo do tapete.