Um carro passa com buzina imitando berrante. No pasto, no rebolo da bosta da vaca, baila um maço vazio de caros cigarros. Um ovo caipira é festejado na mais rica mesa citadina. Essas imagens ambulantes montam o espetáculo da dissipação com enredo baseado na cisão consumada do homem, correspondente à abstração generalizada da sociedade atual. Multifacetada, estilhaçada e hipnotizada.
O paraíso ilusório é construído em forma de mosaico tanto na cidade quanto no campo. A mercadoria impera. O homem do campo é o mesmo dos tempos imemoriais. Porém, um aparelho de som de última geração o joga no liquidificador do consumo absolutamente separado do seu mundo. O homem da cidade é tecnológico de nascença. Nasceu com telefone, com televisão e micro. Mas ornamenta sua cabeça com chapéu de couro e calça botas mostrando que é a mercadoria seu patrão e senhor. A revolução da mercadoria é a mais forte manifestação atual da sociedade. Não há nada literocultural, nada filosófico, nada sociológico em evidência. Há apenas garrafas vazias boiando em rios de merda, entupindo bueiros, provocando enchentes.
(Comentário: quando o poder da unificação mercadológica habita todas as regiões, o nivelamento acontece pela parte mais baixa. Chegaremos à igualdade pela força do que nos quer mais desiguais: o capitalismo.)
*Rui Werneck de Capistrano é assim mesmo, não adianta