A presença do primeiro-ministro não é gratuita. A Ucrânia tem decisiva composição étnica judaica; Volodymyr Zelensky, o presidente, é judeu. E, na guerra de propaganda que acompanha a militar, a morte de civis ucranianos judeus seria arma decisiva contra Putin, a ser acusado em foros internacionais de pogroms pós-modernos czaristas e estalinistas.
Para não esquecer de Stálin, que manteve a União Soviética protegida pelo cordão sanitário dos países satélites, Vladimir Putin, ainda que usando método na Ucrânia, não tem a mesma força na Rússia. A agressão à Ucrânia oferece riscos à sua permanência de décadas no poder. Ainda que sustentado pelas forças armadas e pelo sucedâneo da KGB, há oligarcas que perdem com o conflito.
A viagem do chefe de governo de Israel pode ser contraposta à do presidente do Brasil à região naquilo que representam de relevância dos homens de Estado e suas respectivas nações. Israel não compra fertilizantes da Rússia, como o Brasil continental, país de economia agrícola. O pequeno Israel é forte em tecnologia, na qual seu primeiro-ministro se fez milionário.
Convidado para mediar, Naftali foi conduzido à área de conflito. Bolsonaro convidou-se à Rússia sem pauta definida, exposta no retorno com sabor de desculpa esfarrapada, a compra de fertilizantes (cuja venda acabou suspensa pela Rússia). O governo russo manteve o presidente do Brasil confinado em hotel para ser recebido por Putin só após se submeter ao teste de covid, que recusa no Brasil.
Jair Bolsonaro ignorou a Ucrânia e esbaldou-se no tosco discurso da “relação excepcional” com Putin, esboçando a bravata de que obtivera a paz – sem conversar com o presidente da Ucrânia. Na Rússia e no Brasil abandonou os brasileiros da Ucrânia aos azares da guerra. E para preservar o efeito de propaganda da viagem inútil retarda a evacuação de compatriotas enquanto a guerra avança com bombardeios e mortes.