Quartel
Nesta hora da noite
em que até o pão tem um gosto agressivo de cigarro
lembro que um dia disse:
mãe, vou ser soldado.
Minhas botas tem um jeito de espera
e a farda jogada sobre a cama
anula um gesto qualquer de liberdade.
A vida espia nas frestas da parede
e este corpo – velho camarada –
aguarda a ordem de ataque ou fuga
sem ânsia e sem paixão.
Sinto que há tambores silenciosos
e fuzis na noite
que a voz de comando ficou guardada
para um dia melhor.
Minhas botas e a farda esperam
testemunhas pacíficas da luta.
Sinto que há um brilho de ódio
no silêncio das esperas.