Talvez seja a maior incógnita da atualidade. Tem jornalista, escritor, artista e intelectual, alguns de talento e respeito, que acham que por ser de esquerda o sujeito, o partido político ou o programa governamental não tem defeito. “É gente nossa”, que “só chegou ao poder depois de muita briga” e “precisa continuar sendo apoiado”… Impressionante! E nessa relação ganham destaque, como exemplos, Jânio de Freitas, Chico Buarque, Leonardo Boff e Veríssimo. Gente séria, admirável, com passado de luta e uma vida isenta de suspeita, que nunca estiveram na folha de pagamento do PT, da EBC ou da TV Brasil durante o governo anterior.
Confesso a minha ignorância: não sei a razão. Ah, receberam vantagens pessoais ou familiares dos governos petistas, Lei Rouanet, essas coisas? Jânio, Leonardo, Veríssimo?! Nem Chico. Tenham a santa paciência! Idolatria desmedida, então? Também não faz o tipo de nenhum deles. Acresce o fato de que, Jânio, Chico, Veríssimo, Boff e toda a intelectualidade defensora de Lula e de Dilma sabem de cor que Lula nunca foi de esquerda, sequer sabia direito o que era isso. Ele é e sempre foi um populista, ansioso pelo poder, louco por alcançá-lo em nome dos oprimidos, dos menos favorecidos, etc. e tal. Usou o povo para subir e, uma vez lá em cima, distribuiu migalhas, fantasias, incertezas, e semeou desgraças. Ficou fascinado pelo poder. Um ex-retirante, analfabeto, ex-metalúrgico, dando as cartas e colhendo popularidade internacional… – não é coisa fácil de aguentar, desequilibra qualquer um, ainda mais quando falta a esse um base sólida e propósitos sinceros. Dilma, por seu turno, ainda que tenha sido vítima da ditadura militar, presa e torturada – o que continuará sendo sempre profundamente lamentável –, também não reúne histórico maior de luta pela redemocratização do país. Sua ideologia é de oportunidades. Seu maior feito, naquela quadra da vida, foi haver participado do assalto ao cofre do ex-governador Adhemar de Barros. Um feito mais de porra-louquice do que de resultados. Além do que, uma vez no governo, a “presidenta” pode não ter roubado, mas revelou-se irresponsável; permitiu que roubassem, até quebrar a maior empresa do Brasil e uma das maiores do mundo; afundou o país com a sua incompetência administrativa; e dissipou todas as conquistas sociais apregoadas pelo PT, como emprego, renda, acesso à escola…
E então? Não sei. Continuo sem uma justificativa plausível para o raciocínio e a conduta das pessoas referidas e até nominadas no início deste texto. Deve ser – só pode ser – um vírus, uma bactéria ainda não identificada, que se entranha sorrateiramente no organismo humano e o toma de assalto, com efeitos perversos e de muito difícil combate.
Dou-lhes um exemplo – de grande tristeza pessoal: tenho um jovem amigo, inteligente, culto, de caráter comprovado – com um único senão, já que não há perfeição: é coxa-branca – petista convicto desde sempre, a quem continuo querendo muito bem, que ainda hoje não se constrange em participar, com seriedade de propósito, de passeatas, sustentando faixas de “Morra, Moro” e “Fora, Temer”, e deixando-se fotografar ou distribuindo selfies…
Tudo isso me faz lembrar do saudoso Walmor Marcellino, um socialista convicto desde sempre e destemido soldado das lutas sociais, fiel aos seus princípios até o fim, sobre quem ninguém é capaz de pôr qualquer dúvida. E que sabia, com certeza, que convicção política ou ideológica não pode levar à burrice crônica. Certa feita, ouvi dele um profundo lamento, coisa que não costumava fazer:
– Sabe, Célio, o triste é ver que, quando um dos nossos chega ao poder, comete as mesmas patifarias contra as quais passamos a vida toda lutando…
Qual seria hoje a opinião do grande Marcellino sobre Lula, Dilma, Chico e Veríssimo?