Questão de grau

O presidente defende os políticos: “se tem uma profissão honesta, é a do político“. Se não estava sóbrio ou era a boquirrotice em acentuada evolução, só Janja sabe. Mas Zenão de Eleia revolveu-se na cova helênica e bradou: “Logo, quem não é político é desonesto, até ladrão”.

O político que afirma isso não é honesto, ainda que tenha ficha limpa. Nenhum político pode ser honesto na extensão e na acepção da palavra. Porque para sobreviver o político submete-se a interesses contrários e contraditórios e isso não concilia a noção de honestidade. Quando o presidente atual diz que os políticos são honestos está atribuindo a virtude ao presidente que o antecedeu, um desonesto patológico. Os políticos são como as piadas, que no geral sobrevivem graças aos recém-nascidos, virgens delas e deles.

Os políticos são honestos para os pobres de espírito, os inocentes, os crédulos e para seus cúmplices, deles políticos. Assim, continue a rir das piadas velhas como gentileza aos que as repetem. E acredite na honestidade dos políticos como homenagem a si mesmo, mesmo na honestidade do presidente que é 90% menos desonesto que o presidente anterior, ainda que saibamos que ele faz piada ao defender sua classe. Porque não é a honestidade que conta nos políticos, sim o grau de sua desonestidade.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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