Um dos maiores medos do ser humano, em todos os tempos, é falar em público. Então, apareceram os oradores profissionais, os que tinham voz boa, que sabiam usar as palavras e ofuscaram mais um pouco a democracia.
Claro que o ser humano é muito esperto. Enquanto Platão se esforçava para impor as ideias como base para a política, um cara chamado Isócrates fundou uma escola para ensinar retórica. Ensinava oratória persuasiva: como vencer uma discussão sem ter argumentos sólidos. Isso quer dizer que ele passou a perna em Platão, por certo tempo. A educação dele era realista, atendia as necessidades de uma sociedade dirigida por oradores. Os alunos dele venderiam até geladeira a pinguins, se já tivessem descoberto o Polo Sul. Botavam a boca no trombone e convenciam todos que usar saiotes era mais confortável na hora de ir ao banheiro. Pela força das palavras bonitas e bem ordenadas, punham abaixo as mais sérias pretensões dos oponentes. Um tal Górgias, sofista, escreveu “o poder do discurso sobre a constituição da alma pode ser comparado ao efeito das drogas sobre o estado do corpo”. E, ainda, “a persuasão, quando acrescentada ao discurso, pode deixar na alma a impressão que quiser”.
E pensar que Isócrates não ficou para semente. Platão comeu pelas beiradas e se estabeleceu como grande filósofo. Mas, pensando bem, e baixinho, acho que Isócrates devia ser ressuscitado. Ele é, na minha modesta opinião, patrono da nossa moderna democracia: os faladores vencem. Os radialistas, de voz bem empostada, clara e cheia de truques, emprenham os eleitores pelo ouvido em todo o país diariamente. É só escutar aqueles que narram histórias de amor cheias de sangue, lágrimas e sentimentalismo. Que falam de coração aberto para o coração carente das ouvintes. Que salvam o mundo todos os dias com a maior ‘sinceridade’. Uma voz firme e aveludada ganha de uma ideia clara, porém carente de expressão oral bem articulada.
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