Remédio para a cura social de doidos

© Divulgação|Globo

Essa cultura do deixa-pra-lá, bastante forte no caráter do brasileiro, acabou criando um domínio sobre nossa vida social de tipos que se impõem fazendo-se de doidos. Todo mundo sabe do que estou falando. Em quaisquer condições, no trabalho ou no lazer, sempre tem alguém muito doido que vai se impondo. A pessoa cria situações de constrangimento e intimidação e vai ganhando espaço. Geralmente a maioria das pessoas deixa pra lá, para não ter que encarar conflitos desagradáveis e com isso o doido vai adquirindo poder ou ao menos podendo tocar suas coisas sem ser incomodado, o que em ambientes de trabalho significa não ter que se adequar a regras que os outros são obrigados a cumprir e também se desobrigando de cobranças normais na profissão. O doido acaba levando a vida numa boa e não é raro que adquira poder sobre os outros, até em cargos de comando, com a submissão alheia garantida pelo temor de que ele possa surtar se lhe for exigido o mesmo que todos são obrigados a cumprir.

O artifício de se fazer de doido serve para todas as ocasiões, sendo presente mesmo nas atividades públicas, onde regras e obrigações deveriam ser mais rígidas em seu cumprimento e na punição, quando a pessoa passa do limite. Mas infelizmente no geral é raro que o doido seja contido. Esse ator da TV Globo, Fábio Assunção, vinha sendo favorecido bastante por essa tolerância equivocada que existe no Brasil em relação a quem vive importunando o próximo, mas nesta sua última grosseria parece que afinal ele encontrou uma autoridade com uma boa receita para que indivíduos com o seu tipo de comportamento tomem jeito ou então busquem internação clínica por contra própria para o tratamento especializado. Assunção envolveu-se em um acidente que poderia ter sido grave. Segundo o depoimento de testemunhas envolvidas no acidente e de policiais, o ator estava pelo menos alcoolizado. Como se recusou passar pelo teste alcoólico, serve como indício forte de que ao menos mamado ele estava.

A essa hora ele deve ter já adquirido relativa lucidez com o remédio ministrado pela juíza Gabriela Bertolli. Ele está em liberdade provisória, mas para isso terá que pagar fiança de R$ 47 mil. Neste país com a impunidade garantida por recursos e mais recursos é claro que caberá aos advogados tentar livrar o bolso do cliente. Mas como o Brasil vive atualmente situações políticas e jurídicas que vêm derrubando essa antiga, custosa e interminável modalidade de defesa, tomara que seja mantida a fiança, na mesma quantia ou talvez até aumentada.

Se lá atrás, quando o ator andou aprontando, ele tivesse que ter pago quantia semelhante, é bastante provável que as pessoas não estivessem mais correndo risco com ele solto por aí. O remédio para os doidos que infernizam o cotidiano dos brasileiros é por aí, na linha estabelecida pela juíza Gabriela Bertolli. Fiança alta, multa e até a cadeia, conforme o grau de loucura da pessoa e a reincidência. Com atitudes assim, da Justiça e de autoridades no geral, não há dúvida alguma de que haverá um surto de normalidade entre os doidos que aprontam para se colocarem acima das obrigações que a maioria aceita cumprir sem incomodar o próximo.

José Pires|Brasil Limpeza

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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