Uma vergonha atrás da outra

É muito esclarecedor quando acontecem histórias paralelas como estas do papelão do STF mais uma vez, nesta terça-feira no julgamento do pedido de liberdade ao criminoso Lula, e do vídeo que viralizou na internet com o ministro Ricardo Lewandowski em um avião de carreira chamando a polícia para prender uma pessoa que apenas expressou um sentimento geral: que o STF é uma vergonha.

A carteirada de Lewandowski não faz sentido algum, até porque a verdade foi dita a ele sem nenhuma agressividade, ainda que tenha faltado o “data venia”, como o ministro e seus colegas começam discussões grosseiras deles em plenário. Mas faz menos sentido ainda chamar a polícia quando um contribuinte dá sua opinião sobre um trabalho que, afinal é pago pelos brasileiros. O STF deve sim explicações sobre o péssimo trabalho feito, que em vez trazer sensatez e equilíbrio ao país tem o efeito contrário: desmonta o que é feito pelo outros na tentativa de dar um rumo digno ao país.

Por variadas razões o STF é uma vergonha. Uma delas é a própria presença de Lewandowski nessa alta Corte, fazendo o nível descer lá pra baixo. A nomeação dele como ministro é uma das mais fáceis de explicar: foi por uma interferência de dona Mariza, a mulher de Lula, junto ao marido, então presidente da República. Dona Mariza e a esposa de Lewandowski eram muito amigas, daí que a nomeação de um ministro do Supremo deve ter nascido entre troca de fofocas nas tardes do ABC paulista. Não deixa de ser sugestivo para entender a personalidade de Lewandowski, muito bem definida na inapagável frase “Vem cá, você quer ser preso?”. Finalmente este grande jurista encaixa uma frase sua na História.

A presença de Lewandowski no STF dá até vergonha alheia, constrangimento por uma indignidade dessas ter acontecido. Mas o problema não tem apenas esta via. O chamado efeito Tostines desse desacerto institucional dá muitas voltas e precisa ser interrompido, com a renovação do Judiciário brasileiro em suas atitudes, seguindo neste caso um exemplo que vem de baixo, de juízes da primeira instância e de outras instâncias complementares, que mudaram o sentido da aplicação da Justiça no país, impondo a lei contra poderosos. É uma transformação feita pelo trabalho cotidiano de profissionais sérios que vem sofrendo ataques de tipos como este ministro que tenta intimidar a voz das ruas, que afirma com nitidez que o STF é uma vergonha.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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