Autor da notícia-crime contra o ministro Ricardo Salles, o senador Telmário Mota e Eduardo Bim, presidente do Ibama, o delegado Alexandre Saraiva chefiou por nove anos a Superintendência do Amazonas. É considerado o maior especialista em crimes ambientais na Polícia Federal.
Em 2006, Saraiva comandou a Operação Euterpe, que desbaratou um mega esquema de corrupção envolvendo fiscais do Ibama no Rio e empresários. Na primeira fase da investigação, a PF prendeu 32 pessoas, sendo 25 fiscais do Ibama.
Ao fim do inquérito, 49 pessoas foram denunciadas pelo MPF por fraude na liberação de licenças ambientais e anulação de autuações. O grupo agia na capital do Rio de Janeiro, na Baixada Fluminense, na Região dos Lagos, em Itaboraí e em Angra dos Reis.
Os procuradores pediram a prisão preventiva de 28 investigados. Um dos presos foi o consultor ambiental Carlos José Ruffato Favoreto, aliado do clã Bolsonaro e ex-homem de confiança do falecido empresário Pasquale Mauro, acusado de grilar imensas áreas na Barra da Tijuca. Hoje, Favoreto é dono de uma consultoria ambiental e presidente do Golfe Olímpico, cujo restaurante, antes da pandemia, era ponto de encontro de Flávio Bolsonaro com políticos do Rio.
O delegado Saraiva, exonerado hoje da PF do Amazonas, curiosamente era o nome que Jair Bolsonaro queria para chefiar a Superintendência do Rio na ocasião da crise que levou à saída de Sergio Moro.
Em novembro do ano passado, o presidente levou o policial para uma de suas lives. Durante a transmissão, Bolsonaro criticou países que acusam o Brasil de não cuidar do meio ambiente e colocou a culpa pelo desmatamento nos índios. “Existe o desmatamento ilegal? Existe. Eu acho que existe até, Saraiva, em alguns locais, onde o índio por exemplo troca uma tora com uma Coca-Cola ou com uma cerveja. É possível? Acontece isso ou é próximo disso?”
Saraiva respondeu: “Já aconteceu da madeira em terra indígena ser negociada por valores pífios, na terra indígena e por indígenas. Existe isso. Mas a grande causa do desmatamento é a fraude nos processos administrativos que foram gerados lá atrás. O desmatamento de hoje vem de processos administrativos que autorizaram que vêm lá de 2010. Então não temos desmatamento atrelado a processos recentes, mas a antigos. Mas o ano recorde foi 2018, e 2017 também foi muito forte.”
Como O Antagonista publicou mais cedo, o delegado diz na notícia-crime que o ministro do Meio Ambiente tentou impedir a investigação e praticou “advocacia administrativa” em defesa dos empresários investigados por extração irregular de madeiras.
Segundo Saraiva, a PF apreendeu 226 mil metros cúbicos de madeira, em valor aproximado de R$ 129 milhões. Para justificar a origem da madeira, os empresários apresentaram títulos de terras obtidos em 2017, no governo Temer, e que estariam eivados de irregularidades.