Risco-Bolsonaro: a direita que é um perigo para o Brasil

© Dida Sampaio|Estadão

O discurso da advogada Janaina Paschoal na convenção que oficializou a candidatura de Jair Bolsonaro levantou uma questão que já está bastante clara desde que a direita brasileira passou a participar ativamente do debate político nacional. Quem frequenta as redes sociais desde os tempos de luta contra o governo federal nas mãos do PT sabe o sufoco que era ter por perto, na oposição, os bandos de direitistas que baixavam o nível de qualquer discussão e traziam temas incômodos que favoreciam os petistas. Desde aquela época, o comportamento da direita é de um grau de autoritarismo muito parecido ao do PT, com a diferença apenas de posicionamento ideológico. Depois da queda de Dilma pioraram bastante em arrogância e agressividade, até porque exageram sua influência no impeachment da presidente petista.

Tanto o PT quanto a direita tem a mesma ânsia de controle do que os outros falam ou fazem, a intolerância é igual, sua militância tem o mesmo hábito de assumir com fanatismo crenças políticas absurdas que não resistem ao raciocínio lógico mais básico. A grosseria da direita favorece aos de pior índole, sua superficialidade tem uma atração forte sobre ignorantes. Como são chatos. Na convenção, até o general Augusto Heleno teve que pedir a alguns deles para baixarem a bola e parar de exigir que o militar fosse mais agressivo no discurso.

Não é à toa que no Brasil muitos políticos de direita e de esquerda vêm se alimentando mutuamente há muitos anos. O próprio Bolsonaro deve seu sucesso extraordinário ao embate com parlamentares petistas que não souberam avaliar que de forma idiota estavam abrindo uma ampla chance para a direita de ocupação gradual de espaço político e da criação de uma empatia popular. O “mito” idolatrado pela direita nasceu na verdade dos mais baixos bate-bocas da política nacional.

Em seu discurso na convenção, Janaina foi de uma coragem rara, com um recado franco ao pessoal do Bolsonaro. “Reflitam se nós não estamos correndo o risco de fazer um PT ao contrário”, ela disse, errando em absoluto no tempo da frase e na possibilidade de conserto deste caráter do bolsonarismo, corrente política que deve sua existência exatamente ao fato de ter se constituído como um PT ao contrário. Janaina não se atina também a uma questão importante, que torna a direita tão perigosa quanto o PT. É um risco relacionado igualmente ao tempo. O que o país precisa é sarar de seu sofrimento depois de mais de uma década de PT no poder. Pode ser fatal ao Brasil adquirir feridas novas com outro projeto autoritário.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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