Rodízio de carros

Foto da Internet.
Depois do rodízio do risoto, da polenta, da picanha, de massas, de sushi, de camarão, agora Curitiba pode ganhar o rodízio de veículos, um assunto para acabar onde a cidade mais gosta: rodízio de pizza.

O que poucos só tinham coragem de comentar num engarrafamento na esquina das Marechais, agora já se discute em voz alta e até nas ondas do rádio. A polêmica tomou corpo na Rádio Bandnews, na voz do jornalista Gladimir Nascimento.

— Curitiba precisa ou não precisa do rodízio de veículos?

Para quem tem a felicidade de ainda não conhecer São Paulo e a Cidade do México, o rodízio de veículos é adotado nas megalópoles para diminuir o tráfego de veículos, melhorando o trânsito e a qualidade do ar nos horários de maior movimento. A restrição de circulação atinge automóveis e caminhões, num revezamento com placas de números finais conforme tabela estabelecida. Segunda-feira, 01 e 02; terça-feira, 03 e 04; e assim até o motorista se ver obrigado a ter na garagem dois carros, com placa par e ímpar.

Este é o sistema paulista, muito sem graça. Melhor seria o sistema carioca, inspirado no jogo do bicho: segunda-feira, 01-02-03-04 (avestruz); terça-feira, 05-06-07-08 (águia); quarta-feira, 09-10-11-12 (burro); quinta-feira, 13-14-15-16 (borboleta); sexta-feira, 17-18-19-20 (cachorro); sábado, 21-22-23-24 (cabra); domingo, 25-26-27-28 (carneiro); e segue o calendário, cada dia com o seu respectivo bicho: camelo, cobra, coelho, cavalo, elefante, galo, jacaré, leão, macaco, porco, pavão, peru, touro, tigre, urso, veado e vaca. Este sistema zoológico teria a vantagem de render milhões aos cofres públicos, com a implantação da loteria do trânsito. Mais um bem-vindo foco de corrupção em várias esferas, do flanelinha ao administrador do caixa 2.

Curitiba poderia ter um sistema de rodízio de veículos próprio, não precisamos imitar ninguém. Terra de todas as gentes, faríamos um revezamento por etnias: segunda-feira, polacos e ucranianos; terça-feira, a italianada; quarta-feira, os alemães; quinta-feira, árabes, libaneses e muçulmanos em geral; sexta-feira, japoneses e judeus; sábado, paulistas e nordestinos; domingo, catarinas e gaúchos.

Isto sem esquecer as minorias: pela manhã, afro-descendentes e índios (com direito a reserva especial de estacionamento); à tarde, os portadores de deficiência física; à noite, gays, lésbicas e simpatizantes (horário GLS).

Outro sistema possível seria o RVHD, de restrição de veículos por horário diferenciado. Das 5h às 7h, padeiros, verdureiros, açougueiros, empregadas domésticas, entregadores de jornais, garçons, músicos e boêmios; das 7h às 10h, ônibus escolares, funcionários públicos municipais, estaduais e federais; das 10h às 12h, motoqueiros e taxistas; das 12h às 14h, ônibus escolares, universitários e profissionais liberais; das 14h às 16h, madames que vão ao shopping; das 16h às 18h, Corpo de Bombeiros e ambulâncias; e das 18h em diante entra em circulação a linha de ônibus Interbares, que pode diminuir sensivelmente o tráfego depois da happy-hour.

Resta ver como vai ficar a situação dos pedestres. Estes devem ter sua circulação restrita aos horários de sempre, os mesmos já estabelecidos para cachorros, gatos e outros bichos.

Dante Mendonça [10/08/2007] O Estado do Paraná

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
Esta entrada foi publicada em Geral, Sem categoria. Adicione o link permanente aos seus favoritos.
Compartilhe Facebook Twitter

Deixe um comentário

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.