Na nova regulamentação dos documentos sigilosos, os mais ultra dos secretos ficam sob sigilo e só podem ser divulgados após 25 anos. Outro ponto é que agora não é por decreto do presidente ou despacho do ministro que os documentos públicos recebem a classificação. Doravante um simples funcionário com cargo em comissão pode fazer isso.
Documento ultrassecreto é o top dos sigilosos, algo difícil de aceitar no regime democrático. Sob algumas circunstâncias pode ter justificativa. Por exemplo, a atuação de serviços de inteligência para impedir guerras ou a preparação do país para enfrentá-las. Mas o Brasil não tem o porte e a importância dos EUA ou da Federação Russa para tantos segredos.
O secreto, sigiloso, secreto em graus variados, era comum na ditadura. Não por acaso foi uma das primeiras medidas do governo Bolsonaro antes mesmo de qualquer ação política que remotamente justificasse o sigilo. Será que o real estado de saúde do presidente, com altas sucessivamente adiadas do hospital, caiu sob o rótulo ultrassecreto?
O governo Bolsonaro podia marcar diferença com o governo Lula, que em prática de típico estalinismo apôs o rótulo de secreto às despesas da primeira dama em cabeleireiros, roupas e até intervenções plásticas: os inimigos da direita golpista podiam derrubar o governo com o laquê e o esmalte da companheira Marisa Letícia.
Ultrassecreto é desvio da transparência, apanágio da abertura e informação do regime democrático; nega o registro e a análise da história nacional. Se a monarquia tivesse disso não saberíamos hoje da predileção do príncipe D. João por frangos assados, das arruaças de Pedro I e das namoradas de Pedro II, que ele chamava de amigas.