Ali mesmo na rua, em frente ao ‘centro de formação’, pensei na Alemanha, o pais mais adiantado do mundo, que produz os melhores automóveis – e nada por acaso tem a língua que dizem mais complicada. Erro, o alemão não é complicado; é lógico e busca a clareza; tanto que se tornou a língua filosófica por excelência. Sabe como os ‘centros de formação de condutores’, as auto escolas, são conhecidas na Alemanha? Fahrschule, ou seja, auto escola, assim, curtinho e claro, até com a pontinha de eufemismo: Fahr, genérico para movimento; na bicicleta – Fahrrad.
Eufemismo e bolodório são traços culturais. Eça de Queiros meteu um eufemismo no romance A Relíquia. De volta da Terra Santa, o personagem traz a encomenda da tia, uma relíquia bíblica. Em vez do santo sudário, entrega a camisola da amante. Em epígrafe, Eça explica que encobriu a “nudez forte da verdade sob o manto diáfano da fantasia”. Se você não for da justiça, gente de língua empolada ou não voltou de Israel com calcinha na bagagem, purgue a escrita para não ser “um Rui Barbosa em compota” – assim Leonel Brizola chamava o jurista Paulo Brossard.