Rui Werneck de Capistrano

investimentos

Tem vez que você — acha — que já investiu muito, emocionalmente, num processo pra poder voltar atrás. Por exemplo, você leva a mão em concha pra caçar a mosca que, pousada na mesa, esfrega as patinhas. Toda sua vida está empenhada num gesto que não significa nada pro equilíbrio funcional do mundo. A mosca, por sua vez, está pensando talvez em o que fará nas férias de verão. Ou esfrega as patinhas de contentamento porque saiu o décimo terceiro. Esses movimentos simultâneos — seus e da mosca — criam em torno uma onda emocional de dez mil watts. Não adianta pensar em ecologia, na família que a mosca tem pra criar, no trauma que se alojará em seu mais profundo ser pela prisão eminente. A mão voa e a mosca tenta voar. O encontro está escrito. E, se você sente que ela está presa, vai — ato contínuo — jogá-la no chão. Pófff! Adeus, mosca!

Tem outro exemplo, mas é menos importante. Você está casado há vinte anos e não vê nada além da porta da rua como saída. Blábláblá! Como eu disse, isso não é tão importante. E esse negócio de dizer que se investe muito, emocionalmente, num processo – sem se poder voltar – é coisa que está fora de moda. A menos que você seja um mosca-morta. (in Teoria e Prática de Pareceres e Objeções, editora Loquacité, Paris)

RUI-19

Rui Werneck de Capistrano é autor de Nem bobo nem nada, romancélere de 150 capítulos, publicado em 2009.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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