Rui Werneck de Capistrano

Milhares conhecem Adan Blok, mas ninguém sabe absolutamente nada sobre ele. Alguns tentaram disfarçar a ignorância escrevendo volumosos livros de ensaios sobre a obra dele. Outros se aventuraram em caudalosas biografias — completadas com fotos — falsas — do autor e citações — absurdas — de diversos estudiosos de seus escritos. O fato é que a figura enigmática de Adan Bok também povoou a imaginação dos leitores durante boas décadas. Vários deles foram atendidos em consultórios psicológicos e oficinas de tornearia mecânica.

A minha abordagem neste curto ensaio, portanto, deverá servir apenas para clarear, na sociedade de sua época e posterior, o papel de um escritor deste quilate. Para que meus argumentos fossem convincentes, recorri a uma biografia realizada vinte anos antes do nascimento de Adan Blok. Note-se, desta maneira, o poder profético do biógrafo que chegou a marcar a data do nascimento de Adan Blok para 23 de setembro de 1932 e deu como seus pais Adinor Blok e Helena Dramabruska Blok. Mesmo errando feio — Adan Blok nasceu em 30 de julho de 1880 e era filho de Roman Blok e Gioconda Anuska Blok — o biógrafo se deu conta de que havia criado uma técnica que se tornou comum pelos tempos afora — a da mentira deslavada.

Dos ensaios críticos extraí um conjunto de postulações que infelizmente diminuem demais o papel de Adan Blok na história da literatura mundial — ficou mais ou menos do tamanho de um selo de R$ 0,05. Para completar, fui atrás das obras completas dele. Encontrei-as a trinta milhas náuticas de Porto Príncipe numa arca. Logo nas primeiras páginas senti a influência — benéfica, positiva e sólida — de Tom Creek, nascido apenas cem anos depois. Essa influência é visível em todos os parágrafos que começam com letra maiúscula e terminam com ponto — acusando centenas de vírgulas no decorrer do período.

O que mais me chamou a atenção e me prendeu à leitura foi a sensação de que o autor me olhava de soslaio em casa página. Ele usava óculos escuros na boca e tinha bigodes atrás das orelhas. Além disso, a emoção e a razão lutavam com as palavras por um lugar ao sol. Cada uma usava todo um arsenal de obviedades metafóricas de doer a alma. Morreram todas!

Quase no final de Baudelaire Dançante — sua obra seminal — pressenti que devia me evadir do local imediatamente, pois cinco urubus de cabeça preta espreitavam a carniça. Escapando são e salvo, tenho a dizer que Adan Blok marcou lugar na corrente literária do Séc. XIV. Mais precisamente na obra de alguns autores de hoje — 2010 — que se movem ao longo do texto tal e qual um hipopótamo numa loja de 1,99.

É sinuquista e artista prático.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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