Queria café fresco, manteiga sem sal, pãozinho com gergelim e jornal do dia. Porém, veio pactuando com o inessencial e revelando, nos interstícios, a eterna farsa dos comboios de conquistadores do Velho Oeste. Uma superabundância de desgastes dentro de um espírito ingênuo, embora inteligente e perspicaz.
O Vazio se instalou ao lado e, entre um silêncio e outro, ficou quieto, calado. Como versificador da Realidade, retirou-se o Espírito ao reduto dos artifícios impenetráveis. Expôs a falência da filosofia sob pretextos atemporais e à margem do olhar mais lúcido e falso dos acontecimentos.
As ideias refratárias acumularam-se como torrões de açúcar derretidos sob a ação do café quente – Nada. Como um artesão sumamente escrupuloso, o réprobo árido infiltrou reflexões de cunho metafísico e, depois de um gole mais pausado do café ainda quente, traçou em rápidas pinceladas seu plano universal. Um apanhado de interrogações convencionais até nos confins do Universo, um arroubo de inutilidades suspeitas, uma infrutífera coleção de investigações malsãs. Tudo chegou ao fim quando catou pacientemente os grãozinhos de gergelim espalhados sobre a toalha ricamente bordada com bordas de crochê fino. Batendo no jornal com as costas da mão, à guisa de chamar atenção para a manchete do dia, ponderou: — Sob o vasto império do Vazio, as coisas terrenas não valem uma promessa de fecundidade.
E voltou ao quintal das dúvidas mais habituais, conduzidas pelo elemento do destino cósmico, enquanto suas superstições polidas pastavam mansamente dentro do sistema de Esperanças. Um cachorro latiu ao longe.
*Rui Werneck de Capistrano é doido de pedra-sabão