É bem engraçado você estar na fila do caixa do supermercado e chegar um cara e dizer: “Oi! Você é o John, não é?” Um sorriso seu mostra que sim. O cara continua te olhando, num suspense infernal. Você imediatamente aciona todos os arquivos da memória e nada bate com aquele sorriso, com a aparência um tanto gasta, com a calva. Ele, inconformado, mas gostando da situação que o favorece, continua: “Do Colégio Tal, não é?” Mais depressa os arquivos começam ser abertos, agora numa só classificação: Colégio Tal. Nada. Já levantando as sacolas, o cara sorri matreiramente: “Mil novecentos e… Melhor deixar, não é? Muito tempo!” Um pacto diante da moça do caixa que sorri sem entender nada. Aí, você diz: “Claro, claro! Muito…” E tudo se dissolve numa confabulação sem solução. Ele ainda vai sorrindo pelo corredor e você se sente bobo de não ter tido coragem de perguntar quem era, o que estava fazendo, etc.
Os arquivos ainda são abertos, mas há uma desaceleração rápida e o vácuo permanece na memória. Aí, você se lembra de que um cara, de longínquo tempo, o encontrou e, cheio de vibração, comentou que dia tal haveria um jantar de confraternização das turmas de futebol, de clube, de basquete, enfim, dos amigos e colegas de certa época já bem passada.
O que levaria alguém a fazer isso? Mesmo que no convite estivesse embutido que a renda seria doada para a entidade X, por que encontrar pessoas tão distantes? Nem com o vizinho de hoje você tem qualquer contato! Não consegue nem a adesão dos filhos para ir ao parque! Nem vai com a mulher ao supermercado! Seria a eterna Síndrome do Longe? Salvar baleias no Alasca e deixar morrer de fome um cachorro aqui?
*Rui Werneck de Capistrano é seu vizinho na cidade de Curitiba