Obsessão por palavras pode gerar ruídos na comunicação

A estratégia discursiva dos movimentos sociais

Parte dos movimentos sociais está preocupada com o sentido opressor das palavras e buscando soluções para o problema. Exemplos: substituir o termo “seminário” por “ovulário”, e “esclarecimento” por “escurecimento”. O objetivo é mostrar como a sociedade oprime mulheres e negros ao valorizar características masculinas e brancas no léxico da língua portuguesa.

Porém “seminário” vem do latim “seminarium” (“viveiro de plantas”) que, por sua vez, vem de “semen” (semente). Logo, o sentido é de encontro para divulgar e debater ideias (analogia com germinar conhecimento). Da mesma forma, “esclarecer” não tem a ver com raça e sim com luminosidade: tornar claro para poder ver melhor.

Mesmo se a etimologia machista e racista estivesse correta, o uso corrente dessas palavras não apresenta significado preconceituoso. Além disso, exigir que as pessoas sempre reflitam sobre a origem das palavras antes de utilizá-las é um contrassenso. Isso demandaria um desgaste mental e ocasionaria uma perda de tempo que impossibilitariam a comunicação e as ações no mundo social.

A atual obsessão política pelo léxico se baseia na noção de que palavras têm poder e de que é possível mudar o mundo com palavras. Palavras podem muito, de fato: informar, debater, criticar e, algo fundamental no mundo político, conquistar audiência, efetuar parcerias que ampliem o raio de ação das ideias e tornem viáveis as demandas.

Será que inventar palavras sem motivo e produzir estranhamento no interlocutor é uma boa estratégia política? Não é. É academicismo elitista desligado da realidade social e linguística da maioria da população. Gera ridicularização por parte dos opositores e dificulta a compreensão. A luta de qualquer movimento social precisa fazer sentido para além do próprio movimento. Menos paranoia com palavras e mais seminários, mais esclarecimento sobre os problemas que de fato afetam as minorias talvez seja uma estratégia discursiva menos narcisista e mais eficiente.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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