Por enquanto o placar está amplamente favorável aos de fora. Os dois únicos nomes confirmados para duas das principais áreas do governo Ratinho Junior são o gaúcho general Luiz Felipe Kraemer Carbonell (Segurança) e o mineiro, empresário de tecnologia, Renato Feder (Educaçao). E a se confirmarem as especulações, a área-chave, a secretaria da Fazenda, será ocupada pelo expert em economia, o carioca Paulo Rabello de Castro., ex-presidente do BNDES.
Repete-se um fato histórico – há 165 anos, o primeiro presidente da Quinta Província do Paraná Zacharias Goes de Vasconcelos, era baiano. E reverte-se uma tendência contemporânea, logo após o período da ocupação das nossas fronteiras pelos imigrantes, quando paranaenses da gema ocupavam os cargos mais importantes do Governo.
Num primeiro momento, para os profissionais locais que acompanham o passo-a-passo dos problemas e desafios de suas respectivas áreas, a opção preferencial por nomes de fora causa, sim, um baque na auto estima. Afinal, quem melhor para trabalhar pelo Paraná do que os paranaenses?
Num segundo momento, e aí a suína começa a dar meia volta em direção ao próprio rabo, vem sempre a questão do descompromisso com as coisas nossas. O trauma é recente: o homem responsável pelo maior arrocho fiscal do Paraná nos últimos anos, o economista Mauro Ricardo, foi trazido de São Paulo pelo ex-governador Beto Richa para ocupar a secretaria da Fazenda. Veio, arrochou, venceu todas as resistências locais e foi. Alguém aí sabe informar o paradeiro do frio e calculista Mauro Ricardo?
O “frio e calculista” fica por conta de um detalhe crucial na decisão de um governante paranaense em nomear um não paranaense: centrado na questão técnica (no caso de Mauro Ricardo era tirar o Paraná do buraco), sem qualquer interesse em cargos eletivos, sem a necessidade de fazer amigos ou influenciar pessoas, o de fora tem carta branca para agir. Está imune a críticas, cara-feia ou clamor popular.
Exemplo: o massacre dos professores no Centro Cívico no começo de 2015, que protestava justamente contra a decisão do então secretário da Fazenda em enfiar a mão no jarro da Paraná Previdência, não alterou nada.
Pois foi justamente naqueles momentos duros de 2015 que o jurista paranaense René Dotti, do alto de seu conhecimento jurídico e do culto reverencial à nossa multifacetada formação cultural, fez um improvisado desenho do mapa do Paraná num papel branco. Marcou as fronteiras e deu o diagnóstico preciso para Beto Richa sair da crise: “o governador tem que entender que não se resolve o problema dos seus índios com um cacique de fora. O cacique Mauro Ricardo é de fora”. O conselho do professor René era aleatório, para a geral, mas não foi ouvido.
Ou, pra ir mais longe, como proclamava o cacique Guairacá na resistência ao avanço dos brancos sobre nossos Campos Gerais: “Esta terra tem dono!”