Como se sairão nelas figuras como Aras, Moro, Wal do Açaí?
Quando o repórter de televisão informa que tal acusação contra Jair Bolsonaro será “apreciada pela Procuradoria-Geral da República”, pode-se quase ouvir as gargalhadas varando a noite e entrando pela janela. A ideia de que o procurador-geral Augusto Aras “apreciará” —analisará— uma denúncia contra Bolsonaro é tão pândega que ninguém mais se ofende. Com tudo isso, Aras já se declarou confiante na posteridade. E com razão —a história o poupará. Sua participação nas futuras biografias de Bolsonaro será como alívio cômico, na categoria Olavo de Carvalho, Fabrício Queiroz, Regina Duarte.
Não que faltem candidatos a essa categoria. As ditas biografias terão de se equilibrar entre o trágico e o humorístico ao tratar de ministros que Bolsonaro esbofeteou continuamente em público e que exibiram orgulhosos suas bochechas em fogo pela mão do chefe. Entre eles, Sergio Moro, que apanhou na cara todos os dias em que esteve no governo, Eduardo Pazuello, imortalizado ao salivar sabujamente e piar que “um manda, outro obedece”, e Paulo Guedes, mestre em refazer de hora em hora as contas do país segundo as conveniências políticas de Bolsonaro.
O fato de reduzir alguns à piada que eles se tornaram não impedirá que os biógrafos de Bolsonaro os chamem aos fatos. Afinal, Moro serviu de isca para eleger Bolsonaro; Pazuello levou à morte centenas de milhares pela Covid; e Guedes, milhões ao desemprego, falência e miséria. Outros candidatos a sinistro destaque nessas biografias serão Ricardo Salles, Abraham Weintraub. Ernesto Araújo, Augusto Heleno e Marcelo Queiroga. Esses, sim, ocuparão dezenas de páginas —cada um.
Mas as biografias não são o Juízo Final. Ao analisar os bolsonaristas de fora do governo, será importante distinguir entre quem ajudou a enganar e quem foi enganado, mas lucrou com isso.
Ou as duas coisas, como a esperta, porém ingênua, Wal do Açaí.