Rio de Janeiro – Minha geração –anos 50, 60– cresceu à sombra da Coca-Cola, da Esso, da General Motors, do cachorro-quente e dos filmes de Dean Martin & Jerry Lewis. Outros poderiam citar os chicletes Adams, os gibis de Bolinha e Luluzinha e até os biscoitos Aymoré –que, embora não soubéssemos, também eram americanos. Éramos escravos do imperialismo ianque, o qual, então, já tirava o pão da boca das nossas criancinhas. A cada cachorro-quente engolido ou chiclete mascado, um brasileiro deixava de comer –pregavam as esquerdas.
Já, para Mao Tsé-Tung, essas marcas, assim como o capitalismo, eram só tigres de papel. Estava certo. Desde que removeram aquela lua oval do alto de um prédio art déco no Centro do Rio, nunca mais ouvi falar da Esso. O talco Ross, o sabonete Lever, as Pílulas de Vida do Dr. Ross, a brilhantina Glostora e outros produtos que dominavam a Rádio Nacional também desapareceram, juntamente com seu fabricante, a tentacular Sidney Ross. Até a Pan-Am, cujo logotipo Stanley Kubrick, em 1968, carimbou nas naves de “2001 –Uma Odisseia no Espaço”, foi –literalmente– para o espaço. E quem ainda come cachorro-quente?
No fim de semana, li na coluna de Ancelmo Gois, no “Globo”, que o brasileiro Jorge Paulo Lemann e seus sócios da Ambev estariam articulando a compra da Coca-Cola. Como assim? Como alguém –e, ainda por cima, brasileiro– pode comprar a Coca-Cola? Mas, aí, nos lembramos de que a Ambev já comprou a Budweiser, o Burger King e a Heinz. Nada é impossível para esses rapazes.
O capitalismo se tornou mesmo um tigre de papel. A própria China de há muito o adotou –e como. No Brasil, o governo do PT finge resmungar, mas pratica um capitalismo envergonhado. É o rabo escondido, com o gato de fora. Se Deus é brasileiro, por que não a Coca-Cola?
Folha de São Paulo