Palpites desencontrados

Bolsonaro ainda não chegou a um acordo com o presidente eleito

Um hotel de São Paulo anuncia uma novidade: um robô —aliás, uma robô, chamada Rebeca— que ficará rodando pelo saguão fazendo o papel de concièrge. Ela está equipada para responder a perguntas dos hóspedes sobre os serviços básicos, como horários de refeições, senhas do wi-fi, atrações na vizinhança etc. E parece que “fala”. Mas o importante é que dá as respostas certas. O que Rebeca falar você poderá escrever.

Não seria mal que o presidente eleito Jair Bolsonaro tivesse uma robô como Rebeca para dizer o que o seu governo pretende mesmo fazer. Evitaria os palpites desencontrados cometidos por seus homens de confiança. Exemplos. É verdade que, contrariando o que prometeu, o governo vai ressuscitar a CPMF? É para cortar 25 mil cargos de confiança mesmo só havendo 23 mil? Haverá um trailer da reforma da Previdência este ano ou tudo ficará para o ano que vem? E é para fechar o Supremo Tribunal Federal com um soldado e um cabo, ou quem falou isso é caso para psiquiatra?

É para fundir mesmo o Ministério da Agricultura com o do Meio Ambiente ou recuar pela grita no exterior ou porque até o pessoal do agro começou a achar que era uma falsa boa ideia? É para se meter na questão entre israelenses e palestinos mudando a embaixada brasileira de Tel-Aviv para Jerusalém e enfurecer os árabes, com quem o Brasil tem vasto comércio, ou fazer de conta que não falou nada e voltar atrás? É para cortar o cabelo todo dia ou basta uma vez por semana?

É para deixar político dar palpite na economia ou cada um que fique na sua esperando ordem para falar? É para apoiar a liberdade dos jornais ou ameaçar os que o desagradarem e barrá-los em suas coletivas?

Por enquanto, Rebeca, a robô, não tem vontade própria. Só fala o que lhe foi ensinado por seu programador. Já o programador de Bolsonaro —ele próprio— ainda não chegou a um acordo com o presidente eleito.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
Esta entrada foi publicada em Ruy Castro - Folha de São Paulo e marcada com a tag . Adicione o link permanente aos seus favoritos.
Compartilhe Facebook Twitter

Deixe um comentário

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.