Euforia no Rio

Ruy Castro – Folha de São Paulo

RIO DE JANEIRO – A explosão de alegria no calçadão de Ipanema, com o movimento matinal de carros da imprensa e da Polícia Federal diante de certos edifícios da avenida Vieira Souto, é equivalente a um grito de gol. É mais um corrupto que está saindo com as mãos para trás e sendo levado pelos agentes para um banco traseiro, no qual zarpará para Benfica. Onde será recebido pelos vizinhos da penitenciária com iguais exclamações de júbilo e votos para que mofe ali para sempre —de preferência, depois de devolver pelo menos parte do dinheiro que roubou.

Por mais que as pessoas de fora se compadeçam do Rio e lamentem a nossa situação —derrocada econômica, política, social e institucional—, temos motivos para estar eufóricos. Há dois anos, essa derrocada já era iminente (nós é que não sabíamos) e seus responsáveis estavam à solta e no poder. Hoje, quase todos estão enjaulados, e o carioca se orgulha de o Rio estar dando exemplo em matéria de desinfecção do aparelho putrefato.

A população está vibrando com a cadeia para Sérgio Cabral (cada nova condenação é pretexto para um churrasco) e para seus ex-secretários de governo, líderes na Assembleia, conselheiros do TCE e cúmplices no empresariado —enfim, da máquina que permitia à quadrilha assaltar sem levantar suspeita. A empolgação aumentou com o recolhimento às grades também do casal Garotinho, este abrilhantado pelos esperneios do ex-governador, sempre tão plásticos e hilariantes.

O rombo provocado no Rio pelas políticas e ilegalidades que nos apunhalaram custará para reverter, mas só a evacuação de cena desses malandros já provoca enorme euforia no povo. Se duvida, ande pelas nossas ruas.

Ruas estas que Sérgio Cabral e Adriana Ancelmo, mesmo que um dia sejam soltos por um juiz de suas relações, nunca mais poderão pisar.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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