O Brasil nunca esteve em falta de escritoras bonitas
Neste espaço, sábado último (20), meu amigo Alvaro Costa e Silva chamou a atenção para a capa do livro recém-lançado “O Rio de Clarice” (Autêntica), de Teresa Montero, antologia de textos de Clarice Lispector tendo o Rio como cenário. A foto, bem anos 60, mostra Clarice na praia do Leme, sentada na areia. Alvaro a descreve: “Maiô de alças, óculos escuros e impressionantes pernas longas e bronzeadas. Gatíssima, entrando em seus 40 anos”.
Mas, ao se abrir o livro, vê-se foto ainda melhor: Clarice de pé, com um maiô inteiro revelando um corpo, este, sim, sensacional. Entendo agora por que seus amigos eram secretamente apaixonados por ela. Não que Clarice fizesse qualquer coisa para isso —era uma mulher modesta e recatada, que vivia para escrever. Mas ela era Clarice Lispector e, ainda por cima, bonita, e não havia nada a fazer.
Mergulhado a trabalho em revistas antigas, tenho tido o prazer de constatar que o Brasil nunca esteve em falta de escritoras bonitas. Julia Lopes de Almeida (1862-1934), por exemplo, era de uma beleza clássica e senhorial. Sua contemporânea, Emilia Bandeira de Mello, que se assinava Carmen Dolores (1852-1910), era de traços mais incisivos, assim como sua filha, Cecília (1870-1948), pseudônimo, Chrysanthème. Já Gilka Machado (1893-1980) passava suavidade, ao contrário de sua incendiária poesia. Rosalina Coelho Lisboa (1900-75) deixava os homens sem fala, um deles o jovem Pedro Nava. E Eugenia Alvaro Moreyra (1898-1948) era um espetáculo à parte.
Cecília Meireles (1901-64) e Adalgisa Nery (1905-80) não se contentavam em ser quem eram — eram também mulheres de grande beleza. Elsie Lessa (1914-2000), dizem, parava o trânsito. E Maura Lopes Cançado (1929-93) e Ana Cristina César (1952-83) são a prova de que há beleza inclusive na tragédia. Se tivesse de votar em uma delas, pelo talento e pela formosura, eu preferiria todas.