O renascentista Michelangelo produziu três obras-primas: “David”, a “Pietà” e os afrescos da Capela Sistina. O escritor francês Gustave Flaubert, “Madame Bovary”, “Salambô” e “A Educação Sentimental”. O compositor Villa-Lobos, “O Trenzinho do Caipira” (“Bachiana nº 2”), a “Bachiana nº 5” e “A Floresta Amazônica”. O sambista Ary Barroso, “Faceira”, “Na Batucada da Vida” e “Aquarela do Brasil”. O cineasta Stanley Kubrick, “Glória Feita de Sangue”, “Dr. Fantástico” e “2001: Uma Odisseia no Espaço”. E Lula produziu Dilma Rousseff, Michel Temer e Jair Bolsonaro.
Sua invenção de Dilma, contra a vontade do PT e a verdade dos fatos, exigiu um toque de gênio. Lula não deixaria que homens ambiciosos como José Dirceu, Antonio Palocci e outros o sucedessem no trono presidencial —o seu trono. Então escolheu a ex-brizolista Dilma, construiu-lhe uma lenda de administradora e a impôs ao país, na condição de que, na eleição seguinte, ela lhe devolvesse o lugar. Mas Dilma gostou do trono e disse não. E como não era o que Lula prometia, quebrou o país, enfureceu inclusive o PT e acabou destronada.
Quanto a Michel Temer, todos o conheciam e sabiam como ele era. Enquanto se limitasse ao PMDB e a garantir ministérios para ele e seus amigos, não incomodaria ninguém. Mas Lula precisava do PMDB para eleger Dilma, e Temer, ao lado dela na chapa presidencial, foi o preço que ele aceitou pagar —não uma, mas duas vezes. Daí, quando Dilma foi afastada, quem poderia substituí-la senão Temer, seu vice? Deu no que deu.
E Bolsonaro, mais do que todos, foi inflado por Lula, quando este mandou o PT torpedear os candidatos de centro e centro-esquerda para que, no fim, só lhe restasse como adversário Bolsonaro, “mais fácil de derrotar”. E também deu no que deu.
Pensando bem, a verdadeira obra-prima de Lula é o próprio Lula. Como alguém pode errar tanto e continuar um líder?