Estafilococos ao desamparo

Ruy Castro – Folha de São Paulo

O departamento de microbiologia da Universidade de Barcelona, na Espanha, informa que o celular que você acabou de levar à boca ou à orelha pode conter 23 mil fungos e bactérias. Isso significa, dizem eles, 30 vezes o número de micro-organismos encontrados numa maçaneta de porta ou num botão de descarga de banheiro de botequim –não por acaso, sítios que também vivem em contato com o veículo mais comprometido do planeta: a mão humana. Aquela que nem você sabe onde põe.

Entre os micro-organismos que infestam os celulares estão os enterococcus, os escherichia coli, os bacillus mycoides, os staphylococcus aureus e outros que deixo de citar por, em estudante, ter matado aulas de biologia e latim. É claro que a mão não é a única culpada. Todos os lugares que os celulares frequentam, como tampas de mesas, pias de cozinha e até o bolso da sua calça, são um flamejante criadouro.

Para os cientistas, diante da impossibilidade de o usuário viver desinfetando o celular, só há uma solução: lavar as mãos antes e depois de usar o aparelho. O que também é problemático, considerando-se que as pessoas não se desgrudam dele e o consultam 80 vezes por dia. Aliás, é chocante constatar que um celular pessoal, mesmo que seu titular não o empreste a ninguém, pode ser mais infectado do que um telefone de orelhão –pelo simples fato de que você não passava o dia pendurado no orelhão.

Consultei a Anatel e descobri que há hoje 241 milhões de celulares em uso no Brasil. Multiplicando esse número pelo de bactérias per capita, 23 mil, chegaremos a um universo de 5 trilhões e 543 bilhões de microbicharocos saçaricando alegremente nos nossos celulares.

Nossos, não. Como sabem alguns, sou dos poucos brasileiros que não têm e não usam celular e, por minha causa, deve haver milhões de estafilococos ao desamparo.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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