Seleção fez política da arminha e tabelou com Bolsonaro

Na retranca da quarentena, com pavor do Coronavírus e ainda sem a vacina, o camarada se põe carente e acredita em tudo nesse mundo, inclusive que sairia um posicionamento mais corajoso da Seleção Brasileira sobre a realização da Copa América. Ao não citar nem mesmo quase 500 mil brasileiros mortos pela Covid-19, a equipe fez uma tabelinha, em matéria de negacionismo e insensibilidade, com o governo federal. Se o objetivo era não se meter em política, como pretendia, o time errou feio na defensiva e simplesmente se lambuzou de bolsonarismo. Das chuteiras até à faixa do capitão.

A essa altura a singela cartinha, com adornos patrióticos, já evaporou do “story” da rapaziada. Sumiu do Instagram, mas ficará na memória como uma omissão histórica de personalidades que poderiam contribuir para esse momento triste do país. Nem um genérico reforço sobre a campanha de vacinação foi mencionado. Nada de viva o SUS. Um não-manifesto de um grupo que se diz coeso, porém se revelou anestesiado dos problemas de saúde pública.

“Quando nasce um brasileiro, nasce um torcedor”, diz a nota oficial. E quando morre quase meio milhão desses mesmos possíveis fãs da Seleção Brasileira? É só uma dúvida de quem leva em conta a influência de vocês para milhões de jovens que amam futebol e querem ficar vivos, apesar das autoridades crentes nas receitas do charlatanismo e na imunidade de rebanho.

A singela cartinha se revelou tão alienada quanto uma missiva que a dona Lúcia remeteu ao Felipão e ao Parreira depois do 7×1 da Copa de 2014. Quase plágio, em matéria de desligamento do mundo real. Até a crítica do grupo à Conmebol pareceu um cordial puxão de orelha de uma vovó nos seus netinhos.

Xico Sá

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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