O urso polar enfrenta qualquer frio abaixo de muitos zeros. Além disso, pediu pro alfaiate pra fazer da cor do gelo, pra poder atacar os pobres pingüins e leões marinhos sem ser percebido. E dizem que ele, quando não quer ser visto, se abaixa na neve e cobre o nariz, que é preto e pode denunciar sua presença. E só ataca com vento soprando a favor dele. Não vi isso de perto. E nem quero ver, né? Todos os outros animais que existem por aí têm suas próprias roupas, confeccionadas pela alfaiataria da Seleção Natural.
A maioria usa prêt-à-porter e nem se importa com isso. Veste e fim de papo. Um bando de pingüins é exemplo clássico. Agora, me conte uma coisa: por que só nós, nessa Terra imensa e cheia de encantos mil, temos que nos vestir por conta própria? Isso lá é coisa que se faça, dona Seleção Natural? Por exemplo, as raposas lá das terras geladas têm pelagem mais espessa no inverno e mudam de roupa no verão pra um modelito mais fresco. Outros animais também mudam de roupa sem gastar nada! Nós, que ganhamos uma inteligência superior, autoconsciência, consciência da morte, dos semelhantes, as razões do Dunga, da pinga, dos prazeres, das dores, do tédio, do universo inteiro, nós não fomos agraciados com roupa própria pra enfrentar o frio? Nem a média estação? Nem o mais calorento verão? Logo nós que não deixamos um cantinho da Terra sem povoamento?
Acho que a Seleção Natural endoidou quando viu que havia nos dado tanta coisa e pensou vou deixar esse bichos pelados desde o nascimento. Eles que se virem e que agüentem a Seleção do Dunga, que matem bois, lontras, que plantem algodão e… encham a cara de pinga pra esquentar.
*Rui Werneck de Capistrano, veste jeans, blusa de algodão e tênis. E joga sinuca de bico.