Sem PIX

Custei a aderir ao celular. E admiro quem consiga viver sem ele. Ruy Castro, por exemplo (embora ele se beneficie do celular de sua mulher, Heloísa). Outros dois também famosos pela resistência eram Caetano Veloso e Luis Fernando Verissimo. Não sei se ainda resistem

Não sei você, mas eu não tenho PIX. Nem pretendo ter. Aqui em São Paulo, é um tal de ouvir sobre roubo de celular pra usar o PIX! E se roubassem “só” o celular, ainda estava bom. Mas leio que voltaram os sequestros relâmpagos por causa das facilidades de transações bancárias via celular.

Em um segundo, lá se vão o celular e boa parte de suas economias. O telefone portátil virou uma bomba relógio. Eu que caminho muito por aí confesso que penso duas vezes antes de levar o aparelho quando saio.

Sequestro relâmpago? Nem me fale! Tem tempo, é verdade, mas na minha família (digo, eu e meus três filhos), só um filho não sofreu sequestro relâmpago. Em três situações distintas, eu e dois filhos vivemos isoladamente essa experiência traumática. Nem sonhamos em pensar que possa ser repetida. Daí as precauções com o celular quando vou caminhar.

Ironicamente, o único filho que não passou pelo sequestro, que de relâmpago não tem nada (dura uma eternidade para quem sofre), como eu ia dizendo, o único que não passou por isso já teve celular roubado uma penca de vezes (já perdi a conta de quantas foram). Felizmente, foi antes do advento do aplicativo bancário.

Com a nova modalidade de bandidagem, passei a repensar o uso do celular. Resisti o quanto pude às suas facilidades. Demorei muito a adotá-lo. E quando todo mundo já se esbaldava no WhatsApp, eu ainda tinha um aparelho pré-histórico que só servia para… falar ao telefone.

Minha birra tinha – e ainda tem – vários motivos. Primeiro, que não sou devota de tecnologia. Segundo, porque não queria estar do outro lado da linha a qualquer momento, para qualquer pessoa. Prezo muito meu tempo e meu espaço. E não gosto de ser invadida.

Custei a aderir ao celular. E admiro quem consiga viver sem ele. Ruy Castro, por exemplo (embora ele se beneficie do celular de sua mulher, Heloísa). Outros dois também famosos pela resistência eram Caetano Veloso e Luis Fernando Verissimo. Não sei se ainda resistem.

Quanto a mim, me dobrei ao Smartphone por causa dos aplicativos de táxi, muito úteis para quem não tem carro como eu. Mas daí para o WhatsApp, foi um mau passo. Hoje estou no estágio de sair dos grupos em que me meti inadvertidamente. Impossível ter paz de espírito e participar de grupo de WhatsApp ao mesmo tempo.

Ah! Ia me esquecendo… Para prevenir o uso da minha conta bancária num eventual roubo do celular, tomei três providências junto ao banco: inibi o crédito pré-aprovado (para contratá-lo, o banco terá que me contatar); reduzi ao mínimo o limite do cheque especial e anulei a possibilidade de visualização dos meus investimentos. Ajuda, mas não resolve de todo o problema. Eu sei.

Quer ver a maior prova de que estamos de fato correndo perigo? Nesta semana o Banco Central anunciou medidas restritivas sobre o uso do Pix, limitando por exemplo operações à noite ao valor de R$ 1 mil. Para mim, isso foi um atestado da gravidade do problema. É como se dissessem: “Já que você pode sofrer sequestro relâmpago, vamos reduzir o prejuízo”. Bela solução!

CORONADICAS

Assisti nos últimos dias a dois filmes no NOW que recomendo: Os caçadores de trufas e Jogo do poder. O primeiro é um delicioso documentário sobre como são colhidas as milionárias trufas brancas. O segundo, dirigido por Costa Gavras, é uma ficção baseada no que realmente ocorreu na Grécia na grande crise de 2015, no embate com os bancos europeus e as discussões sobre a enorme dívida do país e o receituário neoliberal da Comunidade Europeia que o inviabilizava.

O filme do genial diretor grego radicado em Paris baseou-se no livro Adultos na sala – minha batalha com o establishment europeu, escrito por Ioannis Georgiu Varoufakis, o “Yanis”, Ministro das Finanças então – aquele que andava de motocicleta e ia às reuniões com os poderosos europeus sem gravata e de mochila a tiracolo. Imperdível. Uma verdadeira aula.

Saudações! E até a próxima.

Monica Soutelo

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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