Sempre a nau

O prefeito hospitalizado faz ligeira pausa no soro endovenoso e decreta luto oficial pela morte de Mário Soares, ex-presidente de Portugal.

A explicação excede o já de si avantajado invólucro físico do ego de Rafael Greca, que nos governa direto do leito: ele e Mário Soares, um presidente português, o outro – Greca-, ministro brasileiro, foram parceiros nas comemorações do Descobrimento.

Para vocês captarem a dimensão e importância da parceria, ela equivaleu a outra, a do Descobrimento, entre o rei dom Manuel e o irmão, infante dom Henrique, da Escola de Sagres.

Mário Soares morre sem pagar a fatura de gratidão com o parça, então ministro: este podia tê-lo levado em cruzeiro ao Monte Pascoal. Do jeito que a nau de Greca navegou, Soares estaria há vinte anos fazendo companhia a dom Sebastião.

A propósito, para que luto oficial municipal tendo sido decretado o luto oficial federal?

A chave está na explicação do prefeito, o ego inflado pela obesidade mórbida do narcisismo: não se trata de luto oficial por Mário Soares; trata-se de regozijo oficial de Rafael Greca – de si mesmo, por si mesmo, para si mesmo. Imaginem se a nau tivesse navegado…

Rogério Distéfano

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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