O problema não está no tapete, mas quem pisa nele. Sim, Lula, que cometeu a ofensa de ser presidente três vezes; um trabalhador semialfabetizado no lugar reservado historicamente aos doutores (aos quais, na falta de letras, humilha pelas luzes da inteligência). Lula parece ter superado o preconceito das zelite. Parece, pois não raro cai na esparrela de se defender, acusando. O editor deste Insulto teria ensinado a resposta que Winston Churchill deu ao exibicionismo do general Montgomery, herói de guerra e comandante do exército na II Guerra Mundial.
Montgomery uma vez autoelogiou-se, exibindo a diferença de seus hábitos em relação aos de Churchill, o primeiro ministro que desafiou a Alemanha nazista. O general dizia: “não fumo, não bebo, acordo cedo, corro, faço exercícios e derrotei Rommel em El Alamein” (ele foi feito Visconde de El Alamein graças a isso). Ao ouvir, Churchill riu e comentou: “Pois eu fumo cinco charutos por dia, bebo o dia inteiro, durmo tarde, não faço exercícios – e sou o chefe dele”. Lula venceu três eleições de dois turnos e uma pena de prisão. E chefia os generais.
Lula foi e será vítima do preconceito, na sublimação do regime escravo, pelo qual os brancos têm o direito divino de mandar e fruir o poder; e os trabalhadores, de hoje, como os escravos de antanho, devem ficar no seu lugar. Lula carrega o labéu, que vem de sua primeira disputa, quando derrotado por Fernando Collor. No debate que travaram na televisão, o engomado yuppie cangaceiro das Alagoas acusava Lula de rico por causa de um conjunto de som. Lula, humilhado, encolhido, defendeu-se dizendo que tinha apenas uma vitrolinha.
O sofá de hoje é a vitrolinha de antes. A ironia é que nunca antes “na história desse país”, um presidente fez tanto como Lula pelas burguesias.