É um alívio perceber que a porta de entrada do filme para a vida de Cora Coralina é a poesia. Parece uma escolha óbvia, mas não é: o diretor Renato Barbieri poderia se ater à imagem da escritora, à reconstituição idêntica aos fatos históricos, à vida de Cora como mãe, esposa, cozinheira etc. Entretanto, pela estética lúdica e pela leitura múltipla dos textos, percebe-se que a personagem é valorizada, acima de tudo, por sua produção artística. Cora Coralina é interpretada por diversas atrizes, que fazem menos um trabalho clássico de atuação do que uma evocação livre da escritora goiana. Ao invés de se preocuparem com a imitação, elas fornecem pontos de apoio para o espectador situar a poetisa no bairro onde morava, na casa em que cozinhava seus doces, na paisagem específica da ponte da Lapa. A aparência de Cora importa pouco: o principal é sua experiência de vida refletida nos textos…. Bruno Carmello
Renato Barbieri, 2018|Documentário, biografia|Fênix Filmes, Brasil.