Margot (Nicole Kidman), irônica escritora de contos que mora em Manhattan, vai com o filho adolescente para Long Island. Lá, sua irmã Pauline (Jennifer Jason Leigh) se prepara seu casamento com o artista desempregado Malcolm (Jack Black). Quando Margot chega, de surpresa, começa a fazer fofocas, provocações e tenta minar a relação do casal.
Margot e o Casamento
“Quando eu era bebê, Margot me colocou em uma assadeira, espalhou sobre mim pimenta e me colocou no forno”, “Não posso dizer que tenho esperança. Ela só o conhece há um ano. Você se casaria com alguém que só conhece há um ano?”. Essas são algumas das falas que Noah Baumbach nos presenteia em Margot e o Casamento. Em um filme recheado de diálogos ácidos e personagens que travam batalhas psicológicas em meio ao ambiente familiar, a produção conta a história da exageradamente sincera Margot (Nicole Kidman), praticamente uma vilã desarticulada com sua metralhadora verbal apontada para a cabeça de todos que a rodeiam. Tanto que não é novidade que mal mantém contato com sua irmã mais nova, Pauline, que está prestes a se casar. Sendo convidada para o casamento, Margot, no entanto, decide ir ao encontro dela, que ainda mora na antiga casa da família, porém acaba tendo de enfrentar alguns assuntos mal resolvidos do passado e do presente.
Baumbach, grande colaborador de Wes Anderson (em Os Excêntricos Tenenbaums, 2001, por exemplo) e ovacionado pelo seu trabalho em A Lula e Baleia (2005), que aborda um pouco do inferno familiar vivenciado pelos filhos no caso de uma separação dos pais, traz em Margot e o Casamento os mesmos assuntos que abordou em sua produção anterior: a família e suas ramificações problemáticas. Aqui, porém, ele somente migra para um espaço quase enigmático e digno de um filme de Ingmar Bergman, mantendo-se na linha tênue sobre separação e casamento (enquanto uma irmã está prestes a se casar, a outra está à beira da separação).
Utilizando-se somente de filmagens externas e em locações, o diretor é um dos adeptos do cinema independente americano, batizado por John Cassavetes, que descarta a utilização de estúdios para as filmagens. Baumbach ainda se apoia no isolamento da ação, fazendo todas as cenas serem ambientadas em um vilarejo distante e na utilização de lentes para a câmera. O figurino chega a ser quase anacrônico. Não sabemos se estamos no final da década de 1980, final da de 1990 ou inicio dos anos 2000. O diretor quer que o enfoque seja sua história, os seus personagens.
E é exatamente isso que acontece. Margot e o Casamento é uma comédia ácida, feita de performances de atores, tanto que a direção de Baumbach não chega a ser inovadora e o centro do filme reside no roteiro elaborado, com diálogos muito bem desenvolvidos, que se mal escritos e interpretados poderiam se tornar mais um filme em que a personagem principal é psicologicamente uma bomba-relógio, que invade o casamento da irmã tumultuando a vida de todos e a própria. O elenco possuiu uma interação excepcional que talvez se deva devido as semanas se preparando para as filmagens, quando ficaram alojados na casa onde as cenas se passavam. Vale destacar principalmente Nicole Kidman, que faz uma Margot amarga e ressentida, porém em alguns momentos extremamente arrependida, mas sem nunca deixar o orgulho de lado. Jason Leigh, por sua vez, faz uma irmã capaz de perdoar as maiores atrocidades feitas por Margot. Como a própria Pauline diz: “Afinal, é difícil achar pessoas que você ame mais que sua família.”
Renato Cabral é graduando em Cinema e Animação pela Universidade Federal de Pelotas (RS), membro da ACCIRS – Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul.