Shows que quem viu, viu

Algumas das maiores noites da bossa nova, com vários gênios no palco, nunca foram gravadas

Há dias (29/5), falei aqui de um quarteto de bossa nova de dar água na boca —João Gilberto, voz e violão; João Donato, piano; Tião Neto, contrabaixo; Milton Banana, bateria— que tocou por três meses na Itália em 1963, nunca se apresentou no Brasil e nunca foi gravado. Os americanos não deixariam passar uma dessas. O que não falta no jazz são discos desses encontros, casuais ou não: Charlie Parker com Dizzy Gillespie, Duke Ellington com Charles Mingus, Louis Armstrong com Bing Crosby, e uns mil outros.

No Rio, nos anos 1960, alguém sugeriu acoplar Os Cariocas com o Tamba Trio. Grande ideia, mas Severino Filho e Luiz Eça, os líderes, não toparam —tinham medo um do outro, dizia-se. Nos anos 1990, propus recriar “o som do Sinatra-Farney Fan Club”, reunindo dois egressos do clube nos seus instrumentos originais: Paulo Moura à clarineta e o próprio Donato ao acordeão. Ficou no sonho.

Tive mais sorte ao juntar, para um incrível show no Sesc Pompeia em 1991, Leny Andrade e o trombonista Raul de Souza, veteranos do Beco das Garrafas, e ressuscitar o histórico Jongo Trio, com Cido, Sabá e Toninho tocando e cantando juntos depois de 25 anos afastados. A plateia mal conseguia respirar, com Leny, Raul e o Jongo num “Estamos Aí” de dez eternos minutos. Nem o áudio foi gravado. Quem, viu, viu.

Mas nada pode ter superado a noite de 18 de outubro de 1962, na PUC do Rio, em torno do flautista americano Herbie Mann, fã da bossa nova. Quem foi tocar com ele? Os trios de Roberto Menescal, Oscar Castro Neves e Luiz Carlos Vinhas. O Tamba Trio. Baden Powell. Luiz Bonfá. E o Bossa Rio de Sergio Mendes, com Paulo Moura, o trompetista Pedro Paulo, o guitarrista Durval Ferreira, o baixista Otavio Bailly e o baterista Edson Machado. Tudo isso na presença de Tom e Vinicius. Que tal?

Não, também não foi gravado. E eu não estava lá. Morava longe e era de menor.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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