Sigamos Carluxo

Distância das redes pode tornar o ‘pit bull’ do presidente um cidadão mais civilizado e sóbrio

Carluxo saiu das redes sociais. Quem diria, o Bolsonaro que leva a pecha de maluco parece ter mais juízo do que todos nós. Ok, especula-se que não tenha sido um lampejo de sabedoria, mas que o 02 tenha apagado parte de seus rastros digitais por causa de um pito do pai ou por medo da CPI das Fake News. 

A distância, forçada ou não, do Twitter, do Facebook e do Instagram pode ser a chance do “pit bull” do presidente se tornar um cidadão um pouco mais civilizado e sóbrio do que a maioria que enlouquece um pouquinho a cada dia com essa hiperconexão. No mínimo, deixará de infernizar e insultar seguidores, opositores e jornalistas.

Até pouco tempo, luxo para mim era ter tempo. Hoje, não tenho a menor dúvida de que a maior riqueza que se pode ostentar é não depender psicologicamente e profissionalmente das redes sociais. Nesta segunda (11), meu colega de coluna, Ronaldo Lemos, escreveu que “no mundo de hoje talvez seja preciso ser um bilionário do nível de Bill Gates para se dar ao luxo de não ter um smartphone”.

Concordo em partes. Se estivesse com a vida ganha, adeus likes, compartilhamentos, stories. Mas nem só o dinheiro determina a decisão de permanecer nessas gaiolas recheadas de uma galera muito louca, nas quais as redes sociais se transformaram. Conheço gente que não tem um puto no bolso, mas muito juízo na cabeça para não cair nessa armadilha.

Consegui me libertar do Facebook, onde já nem entro mais, o que não pode ser considerada uma vitória. A plataforma envelheceu junto com seus usuários e o ambiente parece tão atraente quanto uma aula de hidroginástica pra terceira idade. Mas Twitter, Instagram e Whatsapp ainda tomam parte do meu tempo e levam junto a minha sanidade mental todos os dias. Um dispositivo no meu celular conta que passo mais de oito horas diárias conectada a gente tão ou mais surtada, todos com a ilusão de que assim somos mais bem informados, muito engajados e peças necessárias numa engrenagem sem a qual o mundo não gira.

Há também a impressão de que não existimos, se não estamos conectados. E a de que dependemos das redes para divulgar trabalhos, para nos relacionar com pessoas interessantes e para fazer nosso marketing pessoal diário. E essa fantasia nos impede de nos afastarmos desses ambientes cada vez mais tóxicos.

Por enquanto, numa escala Carluxo, meu comportamento digital não é assim uma “rainha da Inglaterra”, mas também estou bem longe de um “Abraham Weintraub”. Mas o ser humano não desiste nunca e sempre pode ser pior a cada dia. Infelizmente falta coragem, juízo ou medo para deletar meus perfis e viver feliz para sempre.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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