Simples e complexo

Um vinil se lava na pia, com água, flanela e sabão, e põe-se para secar no escorredor

Um jovem me parou na rua para dizer que, ao ler um artigo meu sobre os gloriosos LPs —extintos nos anos 90, ressuscitados c. 2010 e hoje chamados de vinis—, comprara um toca-discos de segunda mão e uma pilha de discos também usados. Mas, como o aparelho viera sem instruções, não sabia como fazê-lo funcionar.

Passei-lhe o básico. O disco —um objeto flexível, preto, com um buraco no meio, com som gravado nos dois lados— deve ser colocado sobre o prato giratório, este acionado por um botão ou por condução manual do braço até a borda do disco. O braço é aquela haste contendo em sua cabeça uma agulha de diamante, que viaja pelos sulcos do disco, captando os sinais gravados e convertendo-os no som que sai pelas caixas. Ao fim do disco, é só virá-lo e repetir o processo. Cada lado pode conter até 23 minutos de som, geralmente seis músicas. Eu me referia, claro, ao LP “normal”, de 12 polegadas de diâmetro e girando à velocidade de 33 r.p.m.

Ele me disse que comprara também disquinhos menores. Expliquei-lhe que eram os chamados compactos, que também rodam a 33 r.p.m. e, no caso dos que vêm com um grande buraco no meio, a 45 r.p.m. —buraco este a ser preenchido por um adaptador que costuma vir nos toca-discos. Podia parecer complexo, mas era bem simples.

O garoto me disse que os discos estavam muito sujos de poeira e de marcas de dedos. Devia limpá-los? Respondi que sim e revelei-lhe que o truque estava em levá-los à torneira, esfregá-los com flanela, água fria e sabão de coco, enxaguá-los e pô-los para secar no escorredor. Mas, se ele estivesse com pressa de ouvir um deles, poderia tocá-lo molhado mesmo. A agulha nadaria de braçada entre os sulcos e, pela falta de estática, produziria um som brilhante, gordo, generoso, de encher o ambiente.

Ele me ouvia estupefato. E, ao me ouvir falando aquilo, até eu me sentia estupefato.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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